quinta-feira, 17 de abril de 2014

Uma nova Igreja

Depois da oração "Hora Sexta" na Igreja Conventual do Mosteiro, nos dirigimos para o refeitório 'grande' ou "de Festas", como lhe chamam os monges, para ir tomarmos o respectivo almoço do dia. Foi, como sempre, uma comida frugal. 
Quando já todos os hóspedes pensávamos que se iria terminar a refeição, como habitualmente, pois neste mosteiro para anunciar o fim da hora de almoço o Padre Prior dá um toque com uma campainha que está na sua mesa, eis então que ele a toca mas para avisar a todos que seria servido um cálice para celebrar o dia da fraternidade.
À saída do refeitório, o Pe. Graciano, um espanhol com os seus 60 e troca o passo e que antes de ser sacerdote foi guarda civil, sempre bem disposto, segredou-me ao ouvido dizendo: "Já observaste que a maioria são leigos? Os monges cartuxos fizeram este mosteiros só para eles, com grandes paredes que os separavam do contacto exterior e agora os que ocupam e dão vida a este edifício são os casais e os jovens que buscam oração, silêncio e encontro com Deus! Não achas que é uma Igreja nova?"
Como tinha apenas terminado de deglutir o último pedaço de pão, meio atrapalhado, lá lhe disse que sim. Na realidade, disse-lhe que nota-se uma nova alegria e um nova maneira de ser Igreja. Depois, os dois entrámos pelo corredor interno de acesso ao claustro e, no qual o silêncio é obrigatório, assim que, de bico fechado, fomos os dois caminhando, lado a lado.
Passando a porta de entrada no claustro, disse-lhe: "É a Igreja do Papa Francisco!" Rimo-nos os dois. E acrescentou ele: "De facto, é uma mudança enorme! Estas paredes feitas por homens e para homens..." E, apontando para o cemitério que está no jardim interior, atira: "Devem os pobres dos monges estarem a dar voltas e mais voltas nas suas tumbas!!"
De caminho para o meu quarto, vinha pensando no que, em jeito de amena cavaqueira, acabámos de partilhar. Se antes, o viver um retiro era matéria exclusiva, hoje em dia é uma riqueza partilhada, e muito saboreada pelos leigos. E, cuidado, já não querem - é muito bem para eles e para nós também! - um retiro qualquer... agora há a 'nova' moda (perdão, de nova não tem nada!) de fazer retiros de umas quantas horas: entras às 10 am e sais às 5 pm! Penso que só agora, passados 50 anos, começámos a cheirar um pouco os documentos conciliares e ao seu espírito de ser Povo de Deus, ou como tem dito o Papa Francisco: ser rebanho que busca novos pastos-caminhos!
De este grupo de hóspedes, somos um total de 40 pessoas, só 6 padres. O resto são casais, jovens solteiros e viúvos. Ora, aqui está o Povo de Deus que cresce partilhando e, partilhando, descobre o rostro de Deus no seu peregrinar.

«Vós, porém, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido em propriedade, a fim de proclamardes as maravilhas daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável; a vós que outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia» 1Ped 2,9-10

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