quarta-feira, 16 de abril de 2014

Hospitalidade Beneditina...

Antiga porta do Mosteiro.
Segundo o dramaturgo romano Plauto, "não existe hóspede, por mais amigo que seja de quem o recebe, que não comece a incomodar depois de três dias".
No México, aprendi um dito que diz algo, mais ou menos, parecido à deste escritor latino: "O morto e o convidado aos três dias começam a cheirar mal".
A experiência, que tenho tido neste mosteiro beneditino, mostra-me que estes ditos, talvez, sejam verdadeiros quando não há na raiz do acolhimento hospitaleiro uma motivação de fé para receber alguém que nos oferece a sua visita. 
Segundo a regra de São Bento, um mosteiro ao receber um hóspede ou um peregrino, realmente a quem estão recebendo é ao próprio Cristo. No número 53 deste regra, aí podemos observar esta espiritualidade beneditina como arte cristã de bem receber e dar pousada: «[1]Todos os hóspedes que chegarem ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo, pois Ele próprio irá dizer: "Fui hóspede e me recebestes". [2]E se dispense a todos a devida honra, principalmente aos irmãos na fé e aos peregrinos. [3]Logo que um hóspede for anunciado, corra-lhe ao encontro o superior ou os irmãos, com toda a solicitude da caridade; [4]primeiro, rezem em comum e assim se associem na paz. [5]Não seja oferecido esse ósculo da paz sem que, antes, tenha havido a oração, por causa das ilusões diabólicas. [6]Nessa mesma saudação mostre-se toda a humildade. Em todos os hóspedes que chegam e que saem, adore-se, [7]com a cabeça inclinada ou com todo o corpo prostrado por terra, o Cristo que é recebido na pessoa deles. [8]Recebidos os hóspedes, sejam conduzidos para a oração e depois sente-se com eles o superior ou quem esse ordenar. [9]Leia-se diante do hóspede a lei divina para que se edifique e depois disso apresente-se-lhe um tratamento cheio de humanidade. [10]Seja o jejum rompido pelo superior por causa dos hóspedes; a não ser que se trate de um dos dias principais de jejum, que não se possa violar; [11]mas os irmãos continuem a observar as normas de jejum. [12]Que o Abade sirva a água para as mãos dos hóspedes; [13]lave o Abade, bem assim como toda a comunidade, os pés de todos os hóspedes; [14]depois de lavá-los, digam o versículo: "Recebemos, Senhor, vossa misericórdia no meio de vosso templo". [15]Mostre-se principalmente um cuidado solícito na recepção dos pobres e peregrinos, porque sobretudo na pessoa desses, Cristo é recebido; de resto o poder dos ricos, por si só, já exige que se lhes prestem honras. [16]Seja a cozinha do Abade e dos hóspedes separada, de modo que os irmãos não sejam incomodados, com a chegada, em horas incertas, dos hóspedes, que nunca faltam no mosteiro. [17]Entrem todos os anos para o trabalho dessa cozinha dois irmãos que desempenhem bem esse ofício. [18]Sejam-lhes concedidos auxiliares quando precisarem, para que sirvam sem murmuração; e do mesmo modo, quando têm menos ocupação, deixem esse ofício, para trabalhar no que lhes for ordenado. [19]E não só em relação a esses, mas em todos os ofícios do mosteiro, seja este o critério: se precisarem de auxiliares, [20]sejam-lhes concedidos; por outro lado, quando estão livres, obedeçam ao que lhes for ordenado. [21]Do mesmo modo, cuide do recinto reservado aos hóspedes um irmão cuja alma seja possuída pelo temor de Deus: [22]haja ali leitos suficientemente arrumados e seja a casa de Deus sabiamente administrada por monges sábios. [23]De modo algum se associe ou converse com os hóspedes quem não tiver recebido permissão: [24]se encontrar ou vir algum deles, saúde-o humildemente, como dissemos, e, pedida a bênção, afaste-se, dizendo não lhe ser permitido conversar com os hóspedes».
Refeitório dos dias de Festa.
Desde que cheguei a este mosteiro, na passada sexta-feira, 11 de Abril, tenho sentido este sentido de hospitalidade aliado a outro que vem confirmar: o da liberdade. Cada hóspede é tratado com liberdade, uma vez que a única coisa que é pedida é a participação nas Laudes, Hora Intermédia e Vésperas com Missa com a respectiva refeição ao término destes momentos de oração comum.
Apenas o Padre Prior nos cumprimenta, dando-nos as boas-vindas a esta Casa de Deus. É interessante notar que nenhum dos demais membros desta comunidade monástica se nos acercam aos hóspedes para nos perguntarem o nosso nome ou o que nos levou a vir ter com eles ou de onde procedemos. Na realidade, somos tratados como peregrinos em busca de Cristo e respeitados como tal. O perfume de São Bento segue dando frutos e criando espiritualidade.
Um aspecto curioso foi notar que los 20 hóspedes que estamos no mosteiro 15 pessoas destes são leigos (casais e solteiros) que buscam nas suas pausa laborais um tempo de oração e recolhimento. Somos 5 sacerdotes, sendo eu o único sacerdote religioso. Somos de diferentes idades. Como podemos observar, a espiritualidade é 'algo' muito buscado, procurado pelo povo de Deus. Isto faz-me lembrar as palavras de Francisco na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium quando diz que para ser missionário é necessário dar um mergulho no coração do povo e sentir-se como povo de Deus que com a força do Espírito Santo busca e caminha para a terra prometida.

«Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo». Ap 3,20

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