segunda-feira, 28 de abril de 2014

Os 4 cavaleiros...

Neste passado domingo, domingo da Divina Misericórdia ou domingo da Páscoa menor, a famosa Pascoela, a Igreja viveu um momento único e que, muito dificilmente num futuro próximo, se possa vir a repetir.
Juntos, na praça de São Pedro, dois papas, Bento XVI e Francisco I, celebraram a elevação ao altar na categoria de santos, modelos de fé e de vida, aos dois papas contemporâneos: João XXIII e João Paulo II.
Os homens de Deus do séc. XX:
São João Paulo II e São João XXIII.
Na literatura e na ficção cinematrográfica, há uma atracção pelo número 4. Há livros e filmes que nos contam a história que serão 4 cavaleiros ou 4 invencíveis trairão a paz e a felicidade ao mundo, sendo eles os guias da justiça e paz mundiais.
Na Biblia, pelo contrario, fala-se nos 4 cavaleiros (livro do Apocalipse, tendo a inspiração na profecia de Daniel) que serão os anunciadores do fim do mundo e da instauração do Reino de Deus.
Para mim, ontem, foi por isso o dia dos 4 magníficos! Os 4 Homens que encarnaram o que de melhor a humanidade tem e que foram e são um ejemplo bem eloquente de vida, de alegria e de fé. Não tiveram medo, nem o têm, de viver como tal!
São autenticamente 4 cavaleiros, com aquele sabor romântico, mas que é um romanticismo real e encarnado. Não há romantismo de letra e de poesia. São os cavaleiros andantes do nosso tempo. São 4 vidas entregadas e doadas a Deus no outro, no pobre, na chaga do próximo.
Cada um de estes 4 é uma afirmação da centralidade de Deus na vida do crente na diversidade da comunhão. Cada um deles são uma pequena grande mostra da abundância do amor entregado a Deus em favor da humanidade. Cada um, ao seu modo, diferente um do outro, quer pela linguagem, quer pelo tempo que viveu e vive, quer pela sua história pessoal e de fé, quer pelo cunho impresso à sua animção da Igreja, mas que apontam, brilhante e directamente, para Deus pelas suas opções de vida e que teve na oração como comunhão com Deus e com o próximo como eixo central das mesmas.
Cada um deles possuiendo qualidades e dons diferentes ao serviço da humanidade e com uma maneira muito diferente de rezar, de viver e de anunciar a fé, souberam dar verticalidade ao estender os brazos para os outros e para o mundo. Até pela maniera de vestir e de se apresentarem se nota, de imediato, quão diferentes são, porém isto não foi sinal de contradicção. O que estes 4 homens têm um denominador comun que aglutinou as suas energias foi a Fé no Ressuscitado! Como no princípio da Igreja nascente, a certeza da presença e vida do Ressuscitado fez com que o medo dos discípulos desaparecesse, dando lugar à alegria do Espírito, à certeza encorajadora da Fé!
Penso que a maravilha da Fé no Ressuscitado que mostra as suas chagas é precisamente isto: há visões e sensibilidades diferentes, mas um mesmo "norte" que nos guia e entusiasma. A Igreja é esta comunidade de gente que vindo desde dos 4 cantos da terra, de diferentes familias, sensibilidades, linguas e ritos são capaces de se reunirem, buscando nas chagas do Ressuscitado a rota verdadeira para a casa de Deus! Podemos até ter lentes diferentes e com uma graduação muito diferente e contrária, mas que isto não nos impida, como comunidade dos discípulos do Ressuscitado, de ter energia para procurar-Lo, ver-Lo nos pobres, nos indigentes, nos marginalizados e nos que a sociedade rejeita ou que, simplesmente, não olha para eles ou elas, ou olha de soslaio...
Gostei muito das palavras do papa Francisco I na sua homilia deste dia. São inspiradoras. Nos ajudam a ver estes dos novos santos com uma mirada inspiradora. Aqui as comparto. São 4 testemunhos diferentes, mas que nos desafiam. Dois de santos e dois de homens que ainda pisando este chão de terra, seguem ajudando-nos a peregrinar ao encontro deste Ressuscitado que nos mostra as suas chagas.
Aqui vão as palavras do Papa:
Papa emérito Bento XVI e o Papa Francisco I
no dia 27 de Abril de 2014.
«São João XXIII e São João Paulo II tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos chagadas e o seu lado trespassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão (cf. Is 58, 7), porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois homens corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo.
Foram sacerdotes, bispos e papas do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de Maria.
Nestes dois homens contemplativos das chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava "uma esperança viva", juntamente com "uma alegria indescritível e irradiante" (1 Ped 1, 3.8). A esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e de que nada e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas pelo crisol do despojamento, do aniquilamento, da proximidade aos pecadores levada até ao extremo, até à náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor ressuscitado, tendo-as, por sua vez, doado em abundância ao Povo de Deus, recebendo sua eterna gratidão.
Esta esperança e esta alegria respiravam-se na primeira comunidade dos crentes, em Jerusalém, de que falam os Actos dos Apóstolos (cf. 2, 42-47), que ouvimos na segunda Leitura. É uma comunidade onde se viveo essencial do Evangelho, isto é, o amor, a misericórdia, com simplicidade e fraternidade.
E esta é a imagem de Igreja que o Concílio Vaticano II teve diante de si.João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restabelecer e actualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos. Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fazem crescer a Igreja. Na convocação do Concílio,São João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado, guiado pelo Espírito. Este foi o seu grande serviço à Igreja; por isso gosto de pensar nele como o Papa da docilidade ao Espírito Santo.
Neste serviço ao Povo de Deus, São João Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de ser lembrado: como o Papa da família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do Céu».

«Logo que foram postos em liberdade, foram ter com os seus e contaram-lhes tudo quanto os sumos sacerdotes e os anciãos lhes tinham dito. Depois de tudo terem ouvido, ergueram a voz a Deus, numa só alma, e disseram:"Senhor, Tu é que fizeste o Céu, a Terra, o mar e tudo o que neles se encontra. Tu disseste pelo Espírito Santo e pela boca do nosso pai David, teu servo:'Porque bramiram as naçõese os povos formaram vãos projectos? Levantaram-se os reis da Terra e os chefes coligaram-secontra o Senhor e contra o seu Ungido.' Sim, realmente, Herodes e Pôncio Pilatos coligaram-se nesta cidade com as nações e os povos de Israel, contra o teu Santo Servo Jesus, a quem ungiste, para levarem a cabo tudo quanto determinaste antecipadamente, pelo teu poder e sabedoria. Agora, Senhor, tem em conta as suas ameaças e concede aos teus servos poderem anunciar a tua palavra com todo o desassombro, estendendo a tua mão para se operarem curas, milagres e prodígios, em nome do teu Santo Servo Jesus". Tinham acabado de orar, quando o lugar em que se encontravam reunidos estremeceu, e todos ficaram cheios do Espírito Santo, começando a anunciar a palavra de Deus com desassombro». Act 4,23-31

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