domingo, 14 de setembro de 2014

Tudo por Amor e com Amor, nada sem Amor!

Neste domingo, celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Somos convidados/as a nos deter e olhar para Jesus crucificado... o que vemos? Já não é possível descobrir nele "o mais belo dos homens", como exclama o Cântico dos Cânticos. Na cruz, seu corpo perdeu toda a sua beleza. Não mais parece nem mesmo gente. Aparece "golpeado, humilhado, desonrado e triturado" (Is 53,5).
Mas, n'Ele podemos descobrir outra beleza, o amor que Jesus nos tem, que brota do extremo de sua fidelidade e aposta total no Pai e seu Reino. E como sua proposta era contrária aos poderes religiosos e políticos da época, foi condenado injustamente e brutalmente morto. Os cristãos não celebramos ou exaltamos o sofrimento de Jesus, não somos seguidores de um Deus sofredor nem masoquista. Acreditamos na fidelidade do Deus da vida.
Celebramos o amor de Deus manifestado em Jesus que é capaz de abraçar a vida até nas condições mais sofridas, mais rejeitadas para dali oferecer-lhes a esperança de uma vida nova. O evangelho de João, que hoje nos é oferecido, nos dá a orientação para penetrar no mistério desta festa da cruz: "Pois, Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna".
A festa da Exaltação da Santa Cruz é a festa do Amor até o extremo, que abre um horizonte de transformação, de possibilidades novas, de liberdade!. E assim como o povo de Israel no deserto olhava para a serpente elevada e era curado, agora "todo aquele que nele (Jesus crucificado) acreditar, nele terá a vida eterna". O centro do diálogo entre Jesus e Nicodemos é o anúncio que Jesus faz a este "judeu importante" de um novo nascimento: "Eu garanto a vocês: se alguém não nasce do alto, não poderá ver o Reino de Deus".
O novo Nacimento que Jesus oferece a Nicodemos é uma nova vida, una vida que brota de Jesus crucificado do qual sai sangue e água (19-34). Não é obra dos seres humanos, é presente de Deus!
Por isso, é preciso que "o Filho do Homem seja levantado", para abrir as portas da vida eterna para a humanidade. Vida eterna que começa nesta terra quando, "olhando" para Jesus, acolhemos seu Espírito que se une ao nosso espírito e nos faz exclamar "Abba! Pai" (Rom 8, 15).
Ao reconhecer-nos filhos e filhas de um mesmo Pai-Mãe, descobrimo-nos irmãos e irmãs de todos os seres humanos e criaturas, parte da grande família de Deus. É isso o Reino!
Nas palavras de Paulo: "De facto, vocês todos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, pois todos vocês, que foram baptizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo" (Gal 3, 27-28).
O movimento cristão inicial não se baseava na herança racial e nacional, nem em linhagens de parentesco, mas num novo parentesco em Jesus Cristo. No baptismo, os cristãos entravam numa relação de parentesco com pessoas de origens raciais, culturais e nacionais diferentes, formando uma única família, que quebrava os modelos e estruturas sociais patriarcais e de escravidão.
Em Jesus crucificado, está o germe desta nova humanidade, desta criação nova da qual somos partícipes pelo batismo e pela qual somos responsáveis em viver e colaborar para que ela continue acontecendo nos tempos de hoje.
Olhamos para ao nosso redor e notamos que o novo estilo de relações proposto por Jesus não foi assumido plenamente. O que pauta as relações sociais, nacionais e internacionais é a quantidade de dinheiro que tenho no bolso, no banco ou no exterior.
Isso determina que povos inteiros continuem dizimados por doenças que têm cura, mas a produção desses medicamentos não é rentável economicamente para os laboratórios, como é o caso do Ébola, malarias, enfim, a lista seguiria engrossando…
Celebrar a festa da Exaltação da Santa Cruz é reconhecer e acolher o Amor que brota de Jesus Crucificado, para, movidos por ele, colocarmos nossa vida, profissão, trabalho a serviço da construção de uma família humana, pautada por relações de filiação, de fraternidade, ética e justa.
Dessa maneira, a vida eterna que o Crucificado nos oferece como primícias nesta terra, alcançá-la-emos plenamente, quando cheguemos a nossa Pátria Definitiva.
E, termino, rezando assim:
Oração: Um pobre assim, um Deus assim
Pobre daquele que descobriu a dor do mundo como dor de Deus,
a injustiça dos povos como rejeição de Deus,
a exclusão dos fracos como batalha contra Deus!
Já tem a cruz assegurada!

Feliz o que descobriu no protesto do pobre a ruptura do sepulcro,
na comunidade marginal o porvir de Jesus,
nos últimos que nos acolhem o regaço materno de Deus!
Já começou a ressuscitar!

Pobre do que se encontrou com um pobre assim, com um Deus assim! Feliz dele!
Benjamin Gonzalez Buelta (www..ihu.unisinos.br)

sábado, 6 de setembro de 2014

Equação cristã: Ligo ou desligo vidas, pessoas?

Tudo o que ligardes..., e tudo o que desligardes...
Olhando o Jesus crucificado, o evangelista exclama "Deus é Amor" e conhecemos o testamento de Jesus: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15, 12-13). Não há dúvida de que as palavras, vida e morte de Jesus mostram a capacidade do amor humano que o faz divino. Sendo a Ressurreição, a explosão do amor de Deus em correspondência ao amor de seu Filho. Por isso, a proposta que Jesus nos deixa, seu evangelho, é uma escola de amor em que encontramos as dicas, as orientações para viver amando até o extremo, para construir relações fraternas e uma sociedade justa.
Além de nos mostrar o caminho para construir um mundo diferente, Jesus nos assegura Sua presença, as últimas palavras do evangelho de hoje o mostram claramente: "Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles".
O tema da "escola do amor" deste evangelho é a responsabilidade uns pelos outros(as), por isso é necessária a correção fraterna: "Se o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em particular, só entre vocês dois". O ditado popular promove o contrário: "cada um por si, Deus por todos", ou seja, não devo preocupar-me com o que acontece a meu irmão(ã). Ele ou ela que se "vire"! Quantas coisas vemos diariamente ao nosso redor, na nossa família, lugar de trabalho, estudo, em meu grupo de amigos(as) que está errado! Quantas vezes somos testemunhas de atitudes ou posicionamentos equivocados de pessoas próximas! E o que fazemos?
O mais rápido e fácil seria emitir juízos condenatórios sobre essa pessoa e ficar calado(a) diante da situação. Ou, para piorar, além da condenação, inicia-se uma corrente de "fofoca": "viu o que essa pessoa fez”, "que horror e não é a primeira vez” e assim vai. A proposta de Jesus é totalmente contrária. Ser responsável por meu irmão(ã), me compromete a ajudá-lo(a) no momento em que ele(a) fraqueja, erra. Não para condená-lo(a) e menos ainda para falar sobre seus erros a outras pessoas. Convida-nos a ter uma atitude ativa e ir em sua busca para lhe mostrar amigavelmente onde errou e ajudá-lo(a) a mudar.
Pode ser que nosso(a) amigo(a) não quer reconhecer seu erro ou mudar de conduta, então a reação natural que pode surgir é abandoná-lo(a) a seu destino, não quis nos escutar, já nada podemos fazer. E, aqui, novamente Jesus educa nosso amor. Não é para desistir de ninguém, toda pessoa merece outra oportunidade. Ele quer que nosso amor seja paciente, por isso que tenha a capacidade criativa de buscar outros caminhos para a salvação de nosso irmão(ã).
Este ministério de salvação, de reconciliação Jesus o confere à comunidade eclesial, toda ela é responsável de fazer o que for preciso para encaminhar as pessoas no caminho certo. Sempre vivendo e exercendo o mandamento do amor.
Só sendo servidora, como seu Mestre e Esposo, a Igreja será instrumento de reconciliação e comunhão, para o qual é "em-poderado" (o que tem o poder): "Eu lhes garanto: tudo o que vocês ligarem na terra, será ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra, será desligado no céu".
Por isso mesmo, causa tanta dor quando vemos que, como comunidade eclesial, não vivemos nossa vocação de serviço, pelo qual em lugar de amar, condenamos, excluímos, dividimos, e colocamos mais fardos no povo de Deus.
Daí, a necessidade que temos de nos ajudar para viver com maior coerência nossa vocação eclesial de serviço, e assim nossa comunhão fará presente Jesus entre nós. E podemos terminar com as palavras de Jean-Yves Leloup: "Amar... apesar de tudo! Amar... apesar do medo, da ansiedade, da angústia, da incerteza. Amar... apesar do passado, do futuro... apesar do presente. Amar... apesar dos impasses, das dificuldades, dos problemas. Amar... apesar das impossibilidades. Amar... apesar do mal, da destruição, da ameaça, do coração de pedra. Amar... apesar da separação, da indefinição. Amar... apesar da sombra. Amar... apesar do outro. Amar... apesar de mim. Amar... apesar de Deus. Amar...
Hoje, mais do que nunca, amar.
Amar... a porta que dá acesso ao jardim..."

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O aviso de Jesus

O evangelho de hoje nos revela um Jesus consciente do que lhe vai acontecer, vivendo isso com confiança e liberdade: "devia ir a Jerusalém, e sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos doutores da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia".
Se alguém quiser seguir-me, que renuncie...
Ele sabia que ser fiel ao Projeto do Pai lhe traria consequências não desejadas, mas inevitáveis. Como disse Raymond Gravel numa das suas valiosas reflexões: "Seguir Jesus é uma escolha cheia de consequências e de compromissos", que podemos ver e consultar em: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523433-seguir-cristo-assumir-riscos-calculados. Jesus sabia do perigo ao qual se expunha se continuasse sua atividade e seguisse insistindo na irrupção do reino de Deus.
Por isso, é claro, àqueles e aquelas que querem seguir suas pegadas, fala-lhes que, nesse caminho de fidelidade, vão encontrar dificuldades, rejeições, perigos, sofrimentos, mas Deus nunca os abandonará. Continuamente ao nosso redor e ainda mais em países ou situações que trazem as redes sociais, conhecemos pessoas que entregaram suas vidas por causa de sua opção e compromisso com os mais pobres.
No texto publicado pelo IHU, no dia 18-08-2014, sobre a beatificação dos 124 mártires cristãos pelo Papa Francisco em sua visita à Coreia, o Papa disse que "os novos bem-aventurados sabiam o preço de serem discípulos, estavam dispostos a grandes sacrifícios e a se deixar despojar daquilo que os pudesse afastar de Cristo: os bens da terra, o prestígio, a honra, porque sabiam que só Cristo era o seu verdadeiro tesouro...". Para o Papa, mártires são "homens e mulheres, minorias religiosas, não são todos cristãos e todos são iguais perante Deus". (Cfr o texto completo na entrevista concedida no avião de regresso a Roma depois da viagem à Coreia).
Voltando ao texto evangélico, lemos que a reação de Pedro diante das palavras de Jesus mostra, por um lado, o amor que ele tem por seu Mestre e, por outro, que ele não tinha ainda compreendido sua proposta: "Pedro levou Jesus para um lado e o repreendeu, dizendo: «Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!".
Como Pedro, nenhum ser humano quer sofrer, nem que suas pessoas queridas sofram! De toda forma queremos evitar o sofrimento, se ser fiel aos princípios pessoais, ao projeto de vida ou a um trabalho ético traz conflitos ou sofrimentos. E a mentalidade de hoje nos convida a abrir mão de tudo isso e buscar o caminho fácil, light, sem estresse.
A atitude de Jesus, a qual também propõe a seus seguidores, é outra. Obviamente, Ele não é masoquista nem suicida. Jesus também não quer o sofrimento! Toda sua vida dedicou-se a combater o sofrimento na doença, nas injustiças, na marginalização, no pecado ou desesperança. Ele não corre atrás da morte, mas também não recua, não foge diante das ameaças, nem modifica sua mensagem, nem a adapta ou suaviza.
Por isso rejeita firmemente a sugestão de Pedro, prefere morrer a trair a missão para a qual se sabia escolhido. Atuaria como Filho, fiel ao seu Pai querido, a seus amigos mais pequenos e abandonados. E, por isso, pede aos seus: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga".
Ser fiel ao Pai como Jesus significa viver dia a dia a coerência de vida de seu Mestre, mesmo num clima de insegurança ou de enfrentamento, renunciando a uma vida de reconhecimento e tranquilidade. Isso só é possível se, como nosso Irmão Maior, vivermos uma confiança total em Deus Pai-Mãe e fizermos de nossa vida uma vida de serviço ao Reino de Deus em favor de todos.
A atitude de serviço inspirou a vida de Jesus e a sua morte: "Eu estou entre vocês como quem serve" (Lc 22,27). Dia a dia, doou-se às pessoas sem importar-lhe se, com isso, se descuidava de sua vida ou se a colocava em perigo, porque irritava as autoridades civis ou religiosas.
Ele é o Servo de Deus (Is 51) e da humanidade. Esse é o sentido último que inspira sua vida e sua morte. A viver desse modo são convidados os cristãos de todos os tempos: na confiança total no Pai e na vontade de servir até o fim.

Oração
(Ao rezar esta oração de Charles de Foucauld,
peçamos ao Deus Pai-Mãe de Jesus que nos conceda ter os mesmos sentimentos,
pensamentos e vontade d’Ele.) 
Oração do Abandono

Meu Pai, a vós me abandono. Fazei de mim o que quiserdes.
O que de mim fizerdes, eu vos agradeço. Estou pronto para tudo, aceito tudo, contanto que a vossa vontade se faça em mim e em todas as vossas criaturas.
Não quero outra coisa, meu Deus! Entrego minha vida em vossas mãos. Eu vo-la dou, meu Deus, com todo o amor do meu coração. Porque eu vos amo e porque é para mim uma necessidade de amor dar-me, entregar-me em vossas mãos, sem medida, com infinita confiança, porque sois o meu Pai.
Charles de Foucauld

sábado, 23 de agosto de 2014

Reflexão sobre o XXI Domingo, 24 de Agosto...

O mar das escolhas e eleições...
Quem é o Filho do Homem? Os evangelhos sinópticos conhecem um dos pontos altos da vida de Jesus neste encontro que acontece em Cesareia de Filipe. A pergunta que Jesus dirige aos seus apóstolos, com Ele reunidos, perpassa a história: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?».
E seus discípulos responderam de acordo a cultura religiosa das pessoas com quem conviviam, na maioria judeus, por isso responderam com personagens do Primeiro Testamento: «Alguns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias, ou algum dos profetas».
Se perguntássemos a nossos contemporâneos quem é o Filho do Homem, as respostas seriam muito variadas, desde a energia do sol, Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, e porque não Dalai Lama? Todos eles mensageiros da vida de Deus. Jesus, voltando-se para os seus, dirige uma pergunta muito directa: «E vós, quem dizem que eu sou?».
Deixemos que esta pergunta chegue hoje a nosso coração, quem dizemos que é Jesus? Podemos responder? Na primeira comunidade de amigos de Jesus, é Pedro quem toma a dianteira e responde: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo».
Pedro pertencia a uma família de pescadores pobres, estava casado com uma mulher de Cafarnaum e viviam formando uma família alargada na casa de seus sogros. Ao sentir-se atraído e chamado por Jesus, deixa suas pobres redes e o segue.
O testemunho das fontes cristãs contribui para criar a impressão de ser um homem espontâneo e honesto, decidido e entusiasta na sua adesão a Jesus e ao mesmo tempo capaz de duvidar e sucumbir às crises e ao medo. Para os judeus, o imaginário de Messias tinha as características de um guerreiro libertador, o qual teria a missão de terminar com a dominação dos romanos, limpar Israel da presença dos pagãos e estabelecer a paz.
Pedro estava certo ao dizer que Jesus era o Messias. Depois as palavras e a vida de Jesus, especialmente sua morte revelarão que seu messianismo nada tinha ver com estas expectativas. Jesus é o Messias verdadeiro, mas não traz a salvação, destruindo os romanos, senão buscando o reino de Deus e sua justiça para todos. É o Messias crucificado e ressuscitado! Mas tanto Pedro como a primeira comunidade compreenderão isso somente depois da Ressurreição de Jesus.
Outro nome de Jesus que Mateus coloca nos lábios de Pedro é Filho de Deus, que é muito sugestivo para os judeus, pois assim se chama na tradição bíblica Israel, o povo tão querido e cuidado por Deus; também o rei, representante do povo é considerado o "filho de Deus", inclusive alguns homens justos que sobressaem pela sua fidelidade a Deus são chamados de filhos seus.
Pedro escutou Jesus falar com autoridade às multidões, viu-o agir com misericórdia, conhecia também o comportamento singular de Jesus diante de Deus. Pedro tinha escutado Jesus chamar seu Pai como Abbá; percebia sua confiança nele; via que sua obediência a ele era total e sua fidelidade absoluta.
Mas é importante lembrar que Jesus não é um "filho" mais de Deus. É o Filho. Foi Deus Pai quem o enviou ao mundo de seu próprio seio (Gal 4,4). Jesus vem de Deus, sua raiz última está nele. Outra vez, a vida e a morte de Jesus quebraram o imaginário popular de Filho de Deus, porque como é possível que o Filho de Deus seja um desconhecido que vai ser executado pelas autoridades romanas?
Proclamar que Jesus é o Filho de Deus é confessar o mistério de Deus encarnado nesse filho de carpinteiro, da Galileia, entregue à morte por amor.
Jesus é um verdadeiro homem. Nele aparece tudo o que é realmente ser humano: solidariedade, compaixão, serviço aos últimos, que busca o reino de Deus e sua justiça... É Deus, nele se faz presente o Deus verdadeiro, o Deus dos pequenos e crucificados, o Deus do Amor, o Deus que só busca a vida e a felicidade plena para todos seus filhos e filhas, começando pelos últimos!
É, por isso, que diante da confissão de Pedro, Jesus só pode felicitá-lo. É nessa fé que Pedro professa, e nele toda a comunidade cristã, que se funda a Igreja. Ela é o grande tesouro dos cristãos e cristãs, é o que lhes permitirá permanecer e avançar, no meio das fragilidades próprias e tormentas do mundo, fiéis a Deus e ao seu projecto de vida para todos.
A fé em Jesus, o Messias, o Filho de Deus é a rocha sobre a qual foi fundada a Igreja, é a herança que recebemos de nossos antecessores e é o que somos convidados a continuar comunicando com nossa palavra e vida até o fim dos tempos.

A Luminosa Escuridão (oração de Benjamin G. B., sj)
És incompreensível.
Mas a escuridão de teu mistério, é mais luminosa que nossas ideologias, pequenas luzes penduradas nas encruzilhadas.
...O mistério dos teus passos
faz-nos caminhar...
És inacessível.
Mas tua distancia é mais acolhedora do último reduto de meu ser que todos os braços que se fecham com amor sobre meus ombros.
És indizível.
Mas teu nome humildemente orado vai emanando silencioso mais sabedoria que as torrentes de palavras que circulam pela terra.
És imanipulável.
Mas teu desígnio traz até minhas veias uma gota de vida eterna que faz brotar desde o centro de minha realidade todas as minhas criações.

sábado, 16 de agosto de 2014

XX Domingo do Tempo Comum, 17 de Agosto de 2014

...os cachorrinhos comem das migalhas que caem...
Para a reflexão-leitura deste XX domingo do tempo comum, partilho aqui o texto de D. António Couto, biblista, que cada domingo partilha um comentário sobre as leituras desse domingo. Aqui fica a partilha para este domingo 17 de Agosto:
«1. O Evangelho deste Domingo XX do Tempo Comum serve-nos uma página absolutamente desarmante, retirada de Mateus 15,21-28. Jesus abandona Genesaré, na costa ocidental do Mar da Galileia, e vai para a região de Tiro e de Sídon, atual Líbano, terra pagã.
 2. Uma mulher e mãe «libanesa», carregada com o drama da sua filha doente, situação verdadeira ontem como hoje, e que hoje bem podemos estender à Palestina, à Síria e ao Iraque, vem implorar de Jesus, num grito que lhe sai do fundo das entranhas, que lhe «faça graça» (eléêsón me, kýrie) (Mateus 15,22), isto é, que olhe para ela com bondade e ternura como uma mãe que dirige o seu olhar embevecido para o bebé que embala nos braços.
3. O texto diz que Jesus nem lhe respondeu (Mateus 15,23). Mas a mulher não desiste, mas insiste e vai mais longe, prostrando-se (verbo proskinéô) agora diante de Jesus (Mateus 15,25). O gesto significa orientar a sua vida toda para Jesus, pôr-se totalmente na dependência de Jesus. A reação de Jesus é de uma dureza extrema: afasta a pobre mulher e mãe duramente, catalogando-a na classe dos cachorros [= pagãos] e não dos filhos [= judeus] (Mateus 15,26). Só para estes é que ele veio.
4. A mulher replica de modo admirável: é verdade, Senhor! Os filhos estão reclinados à mesa, mas os cachorros comem debaixo da mesa as migalhas que caem! (Mateus 15,27). «Mulher da grande fé! (megalê hê pístis)», replicou Jesus, «faça-se como queres!» (Mateus 15,28).
5. Note-se bem que é a única vez que Jesus fala da «grande fé». E atribui-a a uma mulher e mãe «libanesa» cujo amor nunca se vergou perante a dureza e as dificuldades da vida. Em contraponto com esta mulher da «grande fé», note-se bem que Pedro é o homem da «pequena fé» (oligópistos) (Mateus 14,31), do mesmo modo que os discípulos são também os homens «da pequena fé» (oligópistoi) (Mateus 6,30; 8,26; 16,8; 17,20). Admirável ainda que Jesus diga a esta mulher que não desiste, mas insiste e persiste: «faça-se como queres» (genêthêtô hôs théleis), um paralelo claro da oração do «Pai Nosso»: «Faça-se a tua vontade» (genêthêtô tò thélêmá sou) (Mateus 6,10)!
6. O episódio é de uma crueza e de uma beleza inauditas. Mas há ainda mais: é a insistência desta mulher e mãe «libanesa» que, por assim dizer, obriga Jesus a passar mais uma fronteira: de hebraeos ad gentes, dos hebreus para os pagãos!
7. Enquanto tentamos compreender melhor a ousadia da grande fé desta mulher e mãe «libanesa», que enche claramente este Domingo XX, não deixemos também de contemplar o rumor missionário que se faz ouvir, em perfeita sintonia, nas demais passagens ou paisagens bíblicas de hoje. Em primeiro lugar, e em pura sintonia com a universalidade do Evangelho, aí está a lição igualmente aberta de Isaías 56,1-7, que adscreve mais um belo nome a Jerusalém: «Casa de oração para todos os povos» (Isaías 56,7). Jesus citará este texto de Isaías em Mateus 21,13, Marcos 11,17 e Lucas 19,46. Em Mateus e Lucas, só a primeira parte é referida: «A minha casa será chamada casa de oração». Só em Marcos, a citação aparece por inteiro: «A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos». Mas Isaías continua a anunciar que os estrangeiros que quiserem servir e amar o Deus Santo e ser fiéis à sua aliança, serão por Ele conduzidos ao monte santo, e os seus sacrifícios e holocaustos serão do agrado de Deus (Isaías 56,6-7). Alguns serão mesmo escolhidos por Deus para sacerdotes e levitas (Isaías 66,21).
8. Mas este tom de comovida universalidade já se tinha feito ouvir, de forma surpreendente, em Isaías 19,24-25, em que Deus une na mesma bênção o Egipto, a Assíria e Israel, sendo o Egipto e a Assíria inimigos de Israel! O amor de Deus não conhece barreiras. A mesma admirável lição se encontra no Salmo 87,4, um maravilhoso Cântico de Sião: «Recordarei Raab e Babel entre os que me conhecem; eis a Filisteia e Tiro e a Etiópia: este nasceu lá». Eis Deus a escrever no livro anagráfico os nomes dos seus filhos. E aí vemos outra vez inscritos os inimigos de Israel: Raab, que é o Egipto (Isaías 30,7), a Babilónia, os Filisteus, e os estrangeiros mais estrangeiros, a Etiópia (do grego aíthô [= acender, queimar], e ôps [= rosto]), que é o país das pessoas de rosto queimado ou de cor negra, o país do fim do mundo, como escreve Homero.
9. Vai ainda no sentido da universalidade, a lição da Carta aos Romanos 11,13-15.29-32, hoje também lida, em que S. Paulo se intitula «Apóstolo das nações» (Romanos 11,13), e nos diz que Deus usa de misericórdia para com todos (Romanos 11,32). Por isso, bem podemos hoje, com o Salmo 67, juntar as nossas vozes às vozes dos povos de toda a terra no mesmo louvor ao Deus que a todos faz graça e misericórdia».

Visita do Papa Francisco à Coreia - 2014

Igreja pobre e para os pobres, palavras de Francisco I
O Papa Francisco está de visita por cinco dias à Coreia do Sul, por ocasião da Jornada da Juventude da Ásia. Publico e partilho aqui uma reportagem do National Catholic Reporter sobre o pedido do Papa aos bispos coreanos que penso que nos pode inspirar e ajudar a não perder de vista uma fé encarnada e com sentido de fidelidade ao evangelho: «deve penetrar os corações e as mentes dos fiéis e ser reflectida em todos os aspectos da vida eclesial". "O ideal apostólico de 'uma Igreja pobre e para os pobres' encontrou expressão eloquente nas primeiras comunidades cristãs desta nação", lembrou Francisco aos bispos. "Rezo para que esse ideal continue a moldar o caminho da Igreja coreana na sua peregrinação para o futuro".
Alguns observadores da Igreja dizem que os bispos coreanos, reflexo de algumas nomeações episcopais mais conservadoras dos últimos anos, assim como os valores confucionistas que enfatizam a hierarquia, perderam o contacto com os pobres. As palavras do Papa Francisco foram firmes. A solidariedade com os pobres, disse ele, "no entanto, eles dizem que uma excepção visível é o bispo Peter Kang U-il, presidente da Conferência Episcopal. Como bispo da diocese de Jeju, uma ilha onde o governo sul-coreano está construindo uma obra altamente impopular, uma base naval para navios de guerra dos Estados Unidos, Kang tem sido muito activo em protestos locais. Como presidente da Conferência dos bispos coreanos, Kang está desempenhando um papel bastante público durante a viagem de Francisco na Coreia. Francisco disse aos bispos: "Estou convencido de que, se o rosto da Igreja é antes de tudo um rosto de amor, mais e mais jovens serão atraídos para o coração de Jesus sempre inflamado de amor divino na comunhão do seu corpo místico".
No início da tarde, ele se reuniu com o presidente sul-coreano Park Geun-Hye. Talvez já pensando no seu primeiro dia inteiro na Coreia do Sul, com o encontro de jovens durante a Jornada Asiática da Juventude, Francisco encorajou os bispos a oferecer uma nova esperança para os jovens.
Ele disse que ser "guardiões da esperança" significa assegurar "o testemunho profético da Igreja na Coreia, a fim de que continue a expressar-se na sua solicitude pelos pobres e nos seus programas de solidariedade, especialmente em favor dos refugiados e migrantes e dos que vivem à margem da sociedade".
Francisco disse que essas preocupações devem ir além das iniciativas de caridade e avançar para o "campo da promoção social, ocupacional e educacional". "Podemos correr o risco de reduzir o nosso compromisso com os necessitados simplesmente a uma dimensão assistencial, ignorando a necessidade de cada um de crescer como pessoa e expressar com dignidade a sua própria personalidade, criatividade e cultura".
"Ser um testemunho profético do Evangelho traz desafios especiais para a Igreja na Coreia", disse Francisco, "uma vez que ela realiza a sua vida e ministério em meio a uma sociedade próspera, mas cada vez mais secularizada e materialista". Ele chamou a atenção dos bispos para não serem tentados a padronizar seus ministérios pastorais nos modelos de gestão extraídos do mundo dos negócios ou em "um estilo de vida e mentalidade guiados mais por critérios mundanos de sucesso, e de fato poder, do que pelos critérios que Jesus enuncia no Evangelho".
"Peço a vocês e seus irmãos sacerdotes que rejeitem essa tentação em todas as suas formas. Que possamos ser salvos do mundanismo espiritual e pastoral, que sufoca o Espírito, substitui conversão por complacência, e, no processo, dissipa todo fervor missionário"».

sábado, 9 de agosto de 2014

Travessia Missionária

O texto de hoje está situado na parte narrativa do quarto livrinho do evangelho de Mateus, que pode ser sintetizado como o seguimento do mestre da justiça. No domingo anterior, contemplamos o milagre da partilha. Jesus ensinou aos seus o jeito de ser compassivo e solidário e na abundância da comida o evangelista mostra que esse é o caminho para construir outro tipo de relações, de sociedade onde todos(as) tenham o necessário.
«Homem fraco na fé, porque duvidaste?»
Depois disso, Jesus "obrigou os discípulos a entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar". Segundo os estudos, é a única vez que o verbo "obrigar" aparece em Mateus. Talvez a intenção de Mateus é mostrar o interesse que tinha Jesus de que seus discípulos(as) continuassem vivendo com outros(as) o que tinham aprendido com a multiplicações dos pães. Agora é o momento de eles atravessarem o mar, irem para outras terras para levar este novo estilo de vida que tinham aprendido com Jesus.
Jesus foi um peregrino incansável, ia de um lado a outro fazendo o bem. Seus seguidores(as) não podem ficar parados, são permanentemente enviados(as) em missão. A necessidade das pessoas nos leva a buscar e construir juntos os caminhos de vida e liberdade. Enquanto sua comunidade navega mar adentro, Jesus se retira para o monte a fim de rezar. Não sabemos o conteúdo de sua oração, mas certamente está relacionado com a missão dos seus discípulos e discípulas.
A oração sacerdotal de Jesus, que nos apresenta o evangelho de João, nos mostra isso com clareza: "Pai santo, guarda-os em teu nome, os que tu me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um... Não te peço para tirá-los do mundo, mas para guardá-los do Maligno". E depois continua: «Eu não te peço só por estes, mas também por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra deles, para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti" (Jo 21, 11-23).
Na certeza deste cuidado permanente que Jesus tem pelos seus é que a comunidade cristã pode lançar-se ousadamente nas diferentes frentes missionários que lhe toca viver. O que Mateus narra em continuação ilustra esta certeza. A barca, a comunidade, está sofrendo uma forte tormenta: "A barca, porém, já longe da terra, era batida pelas ondas, porque o vento era contrário".
Contrasta a fragilidade da barca com a obscuridade da noite e da tormenta em alto mar. O evangelista quer manifestar a obscuridade e os desafios que enfrenta a comunidade cristã. Jesus vai em auxílio dos seus, mas como acontece quando estamos em crise, fica difícil para nós "ver" a presença do Senhor. Confundimo-lo facilmente com um fantasma.
Conhecedor de nossa cegueira, Jesus apela para que reconheçamos sua voz: «Coragem! Sou eu. Não tenham medo», a mesma que nos chamou e enviou em missão. A mesma parece acender o coração de Pedro, fazendo-o crescer em confiança para desafiá-lo: "Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água".
Obedecendo as palavras do Mestre, Pedro começa a andar sobre as águas. Mas o barulho da tormenta e o frio da noite fazem estremecer sua fé e ele começa a afundar no mar. A fé fraquejar não quer dizer que não exista. Prova disso é que do fundo de seu coração Pedro grita: .
Na experiência deste apóstolo podemos ver reflectida a caminhada da comunidade cristã que sabendo-se enviada pelo Senhor realiza sua missão em meio de dificuldades, tendo como bússola a fé em Jesus. Também sua fé passa pela prova da noite, sente a sacudida do vento: será que Deus nos acompanha? Será que isso é obra sua? Mas por que tantos problemas? Por que parece que nunca chegamos a porto seguro? Onde Ele está?
«Senhor, salva-me»
Desde essa noite podemos igualmente clamar como Pedro: "Senhor, salva-me, salva-nos!" E quando descobrimos a mão de Jesus que se estende para nós, de diferentes formas, como por meio de pessoas que nos ajudam, dos mais pobres que nos ensinam a alegria de viver, do consolo e fortaleza que experimentamos em nosso íntimo... Nossa vida é convidada a se converter em um acto de adoração ao Senhor: "Os que estavam na barca se ajoelharam diante de Jesus, dizendo: «De fato, tu és o Filho de Deus".

Oração
Não amanheças, Senhor,
que ainda meus olhos não aprenderam a ver-te no meio da noite.

Não me fales, Senhor,
que ainda meus ouvidos não logram te escutar nos barulhos da vida.

Não me abraces, Senhor,
que ainda meu corpo não percebe tua pele nos abraços e na brisa.

Não me adociques, Senhor,
que ainda minha garganta não saboreia tua ternura, no meio do amargo.

Não me perfumes, Senhor,
que ainda meu olfacto não cheira tua presença no meio da miséria.

Baptiza meus sentidos com o lento decorrer
de tua graça encarnada, fluindo por meu corpo.

Benjamin Gonzalez Buelta, sj.
(extraído do site: www.ihu.com.br)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O investimento duradouro

O Reino do Céu é ainda como uma rede lançada ao mar...
O texto de hoje é a conclusão do discurso sobre o mistério do Reino, que continua a ser apresentado por meio de parábolas. Elas são, sem dúvida, uma das características deste evangelho que é considerado o evangelho do catequista. Ele busca ensinar como há-de viver a comunidade cristã. Desta vez, duas são as características cristãs que Mateus quer marcar, por um lado a importância da sabedoria, para saber investir totalmente a vida ao serviço do Reino.Por outro lado, é a visão escatológica ou do final dos tempos que a comunidade cristã é convidada a ter, que lhe faz possível arriscar tudo neste tempo no projecto de Deus. Quando se sabe o fim do caminho, é mais fácil caminhar e driblar as dificuldades que se apresentam! Nas duas primeiras parábolas nas quais se compara o Reino de Deus a um tesouro escondido e a uma pérola preciosa, querem salientar a beleza e riqueza do Reino de Deus.
Como são belas as pessoas que lutam pela paz, pela justiça! Como são enriquecedoras as relações que se baseiam no respeito, no diálogo, na igualdade! Como são encorajadores os projectos e grupos que trabalham pela solidariedade, pelo bem comum!
A experiência do Deus-amor faz as pessoas reconhecerem-se como filhos(as) amados(as) de Deus e irmãos e irmãs de toda a humanidade! Tudo isso são sinais do Reino presente e activo neste mundo. Muitos destes sinais se manifestaram na Feira de Economia Solidária realizada em Santa Maria.
Grupos, comunidades religiosas, ONGs, movimentos sociais de quase todos os estados do Brasil e de outros países da América Latina fazem acontecer uma outra economia que propõe um modelo diferente de fazer economia, baseado na cooperação, na ajuda mútua, na participação mais plena possível, na equidade, no cuidado do meio ambiente e nas relações humanas.
Tanto o homem que encontra o tesouro como o comprador de pérolas ao se deparar com tanta beleza e variedade de riqueza decidem se desprender de tudo para ficar com o novo que têm descoberto!
O Reino de Deus, a vida e proposta de Jesus se apresentam gratuitamente, é necessária a adesão plena do ser humano a ele. Não se trata de renunciar para obter o Amor de Deus, é a experiência desse Amor que possibilita desembaraçar-se alegremente de tudo, e assim viver a liberdade dos filhos de Deus. A sabedoria cristã está, então, em saber investir tudo naquilo que é importante, o Reino de Deus e sua justiça.
Para vivê-la cada dia façamos nossa a oração de Salomão: "Deus dos Pais e Senhor de misericórdia, manda a sabedoria do céu santo e a envia do teu trono glorioso, para que ela me acompanhe no meu trabalho e me ensine o que é agradável a ti, porque ela tudo sabe e tudo compreende" (Sab 9, 1-12).
A parábola da rede lançada ao mar prolonga o tema da parábola do joio da semana passada, convivem na sociedade diferentes tipos de pessoas, de "peixes". E a parábola tem sabor de escatologia final. Busca iluminar a meta da comunidade cristã. Segundo o estilo de vida, as pessoas serão acolhidas no seio de Deus ou não. Para os judeus convertidos ao cristianismo, aos quais escreve Mateus, a menção dos peixes remete ao Primeiro Testamento onde está prescrito que peixes podem ser comidos e quais não, existem peixes bons e ruins (Lv 11,9-12 e Dt 14,9).
A luz sobre o fim ilumina com nova força e esperança à comunidade cristã sobre sua opção radical pelo Reino de Deus, ciente das dificuldades e lutas que tem que travar. Ao terminar este capítulo sobre o Reino, Jesus mostra sua preocupação: "Vocês compreenderam tudo isso?".
Jesus apela não a um entendimento intelectual de seus discípulos/as, e sim a que eles/as assumam, se apropriem, coloquem em prática suas palavras, sua proposta de vida, as exigências do Reino.
E nós, comunidade cristã do século XXI, compreendemos o mistério do Reino? É para nós nosso tesouro e pérola preciosa pelo qual tudo deixamos? Para isso precisamos viver sempre nossa condição de discípulos/as do Reino, deixando que a palavra, a vida de Jesus ilumine nossa história, com seu passado, presente e futuro.

Degrau após degrau...
Cruz

Uma meta a longo prazo nos exige esforço duro e prolongado.
Mas um cálculo nos dá a confiança de que vale a pena.
Talvez, a cruz seja somente um investimento.

Por amor a outra pessoa,
sacrificamos com gosto tempo, força e dinheiro.
A cruz se chama solidariedade com o outro
que sinto de algum modo parte de mim mesmo.
Um golpe repentino, pode fulminar-nos em um instante,
e nossa existência fica ferida sem remédio.
Perde-se a saúde, um ser querido, ou a estima pública.
Arranca-se um galho verde, uma parte viva do eu.
Quando esta mutilação encontra seu repouso,
a cruz se chama aceitação.

Existe a cruz livre a que escolho aquela da qual não fujo.
Mas uma vez nela pregado já não posso descer quando quero.
Entregam-se os projectos aos cravos, a fantasia aos espinhos,
o nome aos rumores, os lábios ao vinagre e os bens à partilha.
Aqui a cruz se chama fidelidade ao amor no amor,
que é canto e fortaleza ressuscitando pela ferida.
Benjamim González Buelta, sj.
(extraído do site: http://www.ihu.unisinos.br)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Curso do Profolider

Grupo de Religiosos (as) - ProFoLider 2014
Durante dois meses (Junho e Julho), estarei na casa do Irmãos de La Salle, no bairro periférico Vila Guilhermina da grande metrópole de São Paulo, Brasil.
Somos cerca de 35 religiosos, com dois assistentes, o Pe. Mário e a Ir. Francisca, 6 acompanhadores espirituais e 10 assessores temáticos.
Vindos de distintas partes deste imenso país, mas também do Chile e de Portugal, iniciámos este curso com uma missa de acção de graças pela vida e por este tempo de paragem que estamos começando.
E como já sabemos, para que as 'coisas' corram pelo melhor e sejam um bem, há que pedir sempre a Deus que caminhe connosco! Mais bem, que nos ajude a ver a vida como a grande peregrinação que ela é! E, há mais uma razão: estamos na semana que antecede o domingo do Espírito Santo! (É a primeira semana de Junho!)
Em jeito de reciclagem, de re-fontalização, de avaliação, dando um 'novo sentido' aos anos de caminhada religiosa, estamos vivendo este tempo como um grande momento de partilha, de construir no humano o que trazemos e o que somos. Nas palavras do primeiro curso, seria fazer um bom 'grouding' humano para no humano da vida descobrir o divino que há em "nóis"!
Na próxima semana (do 24 de Julho ao 01 de Agosto), estarei em Maripõra, São Paulo, para na casa da unas irmãs (ainda não sei o seu nome, perdão!!!) viver o retiro de conclusão deste curso. Ao termino deste, estarei de regresso à pátria lusa!

Santuário de Aparecida

No interior do Santuário
No passado dia 31 de maio, com o Pe. Haroldo, espiritano brasileiro, fui conhecer por primeira vez o grande Santuário de Nossa Senhora Conceição da Aparecida, que fica no estado de São Paulo a uns 160 km a norte da grande metrópole com o mesmo nome. Foram 2 horas de viagem pela autoestrada Dutra.
Quando digo grande é por que é mesmo grande. Fiquei assombrado pelas dimensões e a quantidade de gente! Não era dia de peregrinação, apenas sábado do fim de Maio. Só vi que havia a reunião, nesse santuário, do movimento da Legião de Maria. Se num dia assim havia tanta gente, imagino como será num dia de festa ou de peregrinação oficial!
A arquitectura é muito bonita e acolhe o peregrino no sentido de favorecer o contacto com Deus e com o povo que reza, canta e suplica! Com razão, o Papa Francisco disse que o rezar e estar diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida do povo ajudou, e muito, na redacção do documento de Aparecida (V CELAM 2008)!
Para quem quiser saber mais coisas de Aparecida, aqui ficam os links: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_da_Concei%C3%A7%C3%A3o_Aparecida e http://www.a12.com/.
Aqui também aproveito para partilhar algumas tomas...

A Grande Cruz que se situa
na nave central do Santuário.

Imagem Original de N. S. da Conceição de Aparecida
Vista desde a Torre Mirador...