domingo, 14 de setembro de 2014

Tudo por Amor e com Amor, nada sem Amor!

Neste domingo, celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Somos convidados/as a nos deter e olhar para Jesus crucificado... o que vemos? Já não é possível descobrir nele "o mais belo dos homens", como exclama o Cântico dos Cânticos. Na cruz, seu corpo perdeu toda a sua beleza. Não mais parece nem mesmo gente. Aparece "golpeado, humilhado, desonrado e triturado" (Is 53,5).
Mas, n'Ele podemos descobrir outra beleza, o amor que Jesus nos tem, que brota do extremo de sua fidelidade e aposta total no Pai e seu Reino. E como sua proposta era contrária aos poderes religiosos e políticos da época, foi condenado injustamente e brutalmente morto. Os cristãos não celebramos ou exaltamos o sofrimento de Jesus, não somos seguidores de um Deus sofredor nem masoquista. Acreditamos na fidelidade do Deus da vida.
Celebramos o amor de Deus manifestado em Jesus que é capaz de abraçar a vida até nas condições mais sofridas, mais rejeitadas para dali oferecer-lhes a esperança de uma vida nova. O evangelho de João, que hoje nos é oferecido, nos dá a orientação para penetrar no mistério desta festa da cruz: "Pois, Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna".
A festa da Exaltação da Santa Cruz é a festa do Amor até o extremo, que abre um horizonte de transformação, de possibilidades novas, de liberdade!. E assim como o povo de Israel no deserto olhava para a serpente elevada e era curado, agora "todo aquele que nele (Jesus crucificado) acreditar, nele terá a vida eterna". O centro do diálogo entre Jesus e Nicodemos é o anúncio que Jesus faz a este "judeu importante" de um novo nascimento: "Eu garanto a vocês: se alguém não nasce do alto, não poderá ver o Reino de Deus".
O novo Nacimento que Jesus oferece a Nicodemos é uma nova vida, una vida que brota de Jesus crucificado do qual sai sangue e água (19-34). Não é obra dos seres humanos, é presente de Deus!
Por isso, é preciso que "o Filho do Homem seja levantado", para abrir as portas da vida eterna para a humanidade. Vida eterna que começa nesta terra quando, "olhando" para Jesus, acolhemos seu Espírito que se une ao nosso espírito e nos faz exclamar "Abba! Pai" (Rom 8, 15).
Ao reconhecer-nos filhos e filhas de um mesmo Pai-Mãe, descobrimo-nos irmãos e irmãs de todos os seres humanos e criaturas, parte da grande família de Deus. É isso o Reino!
Nas palavras de Paulo: "De facto, vocês todos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, pois todos vocês, que foram baptizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo" (Gal 3, 27-28).
O movimento cristão inicial não se baseava na herança racial e nacional, nem em linhagens de parentesco, mas num novo parentesco em Jesus Cristo. No baptismo, os cristãos entravam numa relação de parentesco com pessoas de origens raciais, culturais e nacionais diferentes, formando uma única família, que quebrava os modelos e estruturas sociais patriarcais e de escravidão.
Em Jesus crucificado, está o germe desta nova humanidade, desta criação nova da qual somos partícipes pelo batismo e pela qual somos responsáveis em viver e colaborar para que ela continue acontecendo nos tempos de hoje.
Olhamos para ao nosso redor e notamos que o novo estilo de relações proposto por Jesus não foi assumido plenamente. O que pauta as relações sociais, nacionais e internacionais é a quantidade de dinheiro que tenho no bolso, no banco ou no exterior.
Isso determina que povos inteiros continuem dizimados por doenças que têm cura, mas a produção desses medicamentos não é rentável economicamente para os laboratórios, como é o caso do Ébola, malarias, enfim, a lista seguiria engrossando…
Celebrar a festa da Exaltação da Santa Cruz é reconhecer e acolher o Amor que brota de Jesus Crucificado, para, movidos por ele, colocarmos nossa vida, profissão, trabalho a serviço da construção de uma família humana, pautada por relações de filiação, de fraternidade, ética e justa.
Dessa maneira, a vida eterna que o Crucificado nos oferece como primícias nesta terra, alcançá-la-emos plenamente, quando cheguemos a nossa Pátria Definitiva.
E, termino, rezando assim:
Oração: Um pobre assim, um Deus assim
Pobre daquele que descobriu a dor do mundo como dor de Deus,
a injustiça dos povos como rejeição de Deus,
a exclusão dos fracos como batalha contra Deus!
Já tem a cruz assegurada!

Feliz o que descobriu no protesto do pobre a ruptura do sepulcro,
na comunidade marginal o porvir de Jesus,
nos últimos que nos acolhem o regaço materno de Deus!
Já começou a ressuscitar!

Pobre do que se encontrou com um pobre assim, com um Deus assim! Feliz dele!
Benjamin Gonzalez Buelta (www..ihu.unisinos.br)

sábado, 6 de setembro de 2014

Equação cristã: Ligo ou desligo vidas, pessoas?

Tudo o que ligardes..., e tudo o que desligardes...
Olhando o Jesus crucificado, o evangelista exclama "Deus é Amor" e conhecemos o testamento de Jesus: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15, 12-13). Não há dúvida de que as palavras, vida e morte de Jesus mostram a capacidade do amor humano que o faz divino. Sendo a Ressurreição, a explosão do amor de Deus em correspondência ao amor de seu Filho. Por isso, a proposta que Jesus nos deixa, seu evangelho, é uma escola de amor em que encontramos as dicas, as orientações para viver amando até o extremo, para construir relações fraternas e uma sociedade justa.
Além de nos mostrar o caminho para construir um mundo diferente, Jesus nos assegura Sua presença, as últimas palavras do evangelho de hoje o mostram claramente: "Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles".
O tema da "escola do amor" deste evangelho é a responsabilidade uns pelos outros(as), por isso é necessária a correção fraterna: "Se o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em particular, só entre vocês dois". O ditado popular promove o contrário: "cada um por si, Deus por todos", ou seja, não devo preocupar-me com o que acontece a meu irmão(ã). Ele ou ela que se "vire"! Quantas coisas vemos diariamente ao nosso redor, na nossa família, lugar de trabalho, estudo, em meu grupo de amigos(as) que está errado! Quantas vezes somos testemunhas de atitudes ou posicionamentos equivocados de pessoas próximas! E o que fazemos?
O mais rápido e fácil seria emitir juízos condenatórios sobre essa pessoa e ficar calado(a) diante da situação. Ou, para piorar, além da condenação, inicia-se uma corrente de "fofoca": "viu o que essa pessoa fez”, "que horror e não é a primeira vez” e assim vai. A proposta de Jesus é totalmente contrária. Ser responsável por meu irmão(ã), me compromete a ajudá-lo(a) no momento em que ele(a) fraqueja, erra. Não para condená-lo(a) e menos ainda para falar sobre seus erros a outras pessoas. Convida-nos a ter uma atitude ativa e ir em sua busca para lhe mostrar amigavelmente onde errou e ajudá-lo(a) a mudar.
Pode ser que nosso(a) amigo(a) não quer reconhecer seu erro ou mudar de conduta, então a reação natural que pode surgir é abandoná-lo(a) a seu destino, não quis nos escutar, já nada podemos fazer. E, aqui, novamente Jesus educa nosso amor. Não é para desistir de ninguém, toda pessoa merece outra oportunidade. Ele quer que nosso amor seja paciente, por isso que tenha a capacidade criativa de buscar outros caminhos para a salvação de nosso irmão(ã).
Este ministério de salvação, de reconciliação Jesus o confere à comunidade eclesial, toda ela é responsável de fazer o que for preciso para encaminhar as pessoas no caminho certo. Sempre vivendo e exercendo o mandamento do amor.
Só sendo servidora, como seu Mestre e Esposo, a Igreja será instrumento de reconciliação e comunhão, para o qual é "em-poderado" (o que tem o poder): "Eu lhes garanto: tudo o que vocês ligarem na terra, será ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra, será desligado no céu".
Por isso mesmo, causa tanta dor quando vemos que, como comunidade eclesial, não vivemos nossa vocação de serviço, pelo qual em lugar de amar, condenamos, excluímos, dividimos, e colocamos mais fardos no povo de Deus.
Daí, a necessidade que temos de nos ajudar para viver com maior coerência nossa vocação eclesial de serviço, e assim nossa comunhão fará presente Jesus entre nós. E podemos terminar com as palavras de Jean-Yves Leloup: "Amar... apesar de tudo! Amar... apesar do medo, da ansiedade, da angústia, da incerteza. Amar... apesar do passado, do futuro... apesar do presente. Amar... apesar dos impasses, das dificuldades, dos problemas. Amar... apesar das impossibilidades. Amar... apesar do mal, da destruição, da ameaça, do coração de pedra. Amar... apesar da separação, da indefinição. Amar... apesar da sombra. Amar... apesar do outro. Amar... apesar de mim. Amar... apesar de Deus. Amar...
Hoje, mais do que nunca, amar.
Amar... a porta que dá acesso ao jardim..."