segunda-feira, 28 de abril de 2014

Os 4 cavaleiros...

Neste passado domingo, domingo da Divina Misericórdia ou domingo da Páscoa menor, a famosa Pascoela, a Igreja viveu um momento único e que, muito dificilmente num futuro próximo, se possa vir a repetir.
Juntos, na praça de São Pedro, dois papas, Bento XVI e Francisco I, celebraram a elevação ao altar na categoria de santos, modelos de fé e de vida, aos dois papas contemporâneos: João XXIII e João Paulo II.
Os homens de Deus do séc. XX:
São João Paulo II e São João XXIII.
Na literatura e na ficção cinematrográfica, há uma atracção pelo número 4. Há livros e filmes que nos contam a história que serão 4 cavaleiros ou 4 invencíveis trairão a paz e a felicidade ao mundo, sendo eles os guias da justiça e paz mundiais.
Na Biblia, pelo contrario, fala-se nos 4 cavaleiros (livro do Apocalipse, tendo a inspiração na profecia de Daniel) que serão os anunciadores do fim do mundo e da instauração do Reino de Deus.
Para mim, ontem, foi por isso o dia dos 4 magníficos! Os 4 Homens que encarnaram o que de melhor a humanidade tem e que foram e são um ejemplo bem eloquente de vida, de alegria e de fé. Não tiveram medo, nem o têm, de viver como tal!
São autenticamente 4 cavaleiros, com aquele sabor romântico, mas que é um romanticismo real e encarnado. Não há romantismo de letra e de poesia. São os cavaleiros andantes do nosso tempo. São 4 vidas entregadas e doadas a Deus no outro, no pobre, na chaga do próximo.
Cada um de estes 4 é uma afirmação da centralidade de Deus na vida do crente na diversidade da comunhão. Cada um deles são uma pequena grande mostra da abundância do amor entregado a Deus em favor da humanidade. Cada um, ao seu modo, diferente um do outro, quer pela linguagem, quer pelo tempo que viveu e vive, quer pela sua história pessoal e de fé, quer pelo cunho impresso à sua animção da Igreja, mas que apontam, brilhante e directamente, para Deus pelas suas opções de vida e que teve na oração como comunhão com Deus e com o próximo como eixo central das mesmas.
Cada um deles possuiendo qualidades e dons diferentes ao serviço da humanidade e com uma maneira muito diferente de rezar, de viver e de anunciar a fé, souberam dar verticalidade ao estender os brazos para os outros e para o mundo. Até pela maniera de vestir e de se apresentarem se nota, de imediato, quão diferentes são, porém isto não foi sinal de contradicção. O que estes 4 homens têm um denominador comun que aglutinou as suas energias foi a Fé no Ressuscitado! Como no princípio da Igreja nascente, a certeza da presença e vida do Ressuscitado fez com que o medo dos discípulos desaparecesse, dando lugar à alegria do Espírito, à certeza encorajadora da Fé!
Penso que a maravilha da Fé no Ressuscitado que mostra as suas chagas é precisamente isto: há visões e sensibilidades diferentes, mas um mesmo "norte" que nos guia e entusiasma. A Igreja é esta comunidade de gente que vindo desde dos 4 cantos da terra, de diferentes familias, sensibilidades, linguas e ritos são capaces de se reunirem, buscando nas chagas do Ressuscitado a rota verdadeira para a casa de Deus! Podemos até ter lentes diferentes e com uma graduação muito diferente e contrária, mas que isto não nos impida, como comunidade dos discípulos do Ressuscitado, de ter energia para procurar-Lo, ver-Lo nos pobres, nos indigentes, nos marginalizados e nos que a sociedade rejeita ou que, simplesmente, não olha para eles ou elas, ou olha de soslaio...
Gostei muito das palavras do papa Francisco I na sua homilia deste dia. São inspiradoras. Nos ajudam a ver estes dos novos santos com uma mirada inspiradora. Aqui as comparto. São 4 testemunhos diferentes, mas que nos desafiam. Dois de santos e dois de homens que ainda pisando este chão de terra, seguem ajudando-nos a peregrinar ao encontro deste Ressuscitado que nos mostra as suas chagas.
Aqui vão as palavras do Papa:
Papa emérito Bento XVI e o Papa Francisco I
no dia 27 de Abril de 2014.
«São João XXIII e São João Paulo II tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos chagadas e o seu lado trespassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão (cf. Is 58, 7), porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois homens corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo.
Foram sacerdotes, bispos e papas do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de Maria.
Nestes dois homens contemplativos das chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava "uma esperança viva", juntamente com "uma alegria indescritível e irradiante" (1 Ped 1, 3.8). A esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e de que nada e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas pelo crisol do despojamento, do aniquilamento, da proximidade aos pecadores levada até ao extremo, até à náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor ressuscitado, tendo-as, por sua vez, doado em abundância ao Povo de Deus, recebendo sua eterna gratidão.
Esta esperança e esta alegria respiravam-se na primeira comunidade dos crentes, em Jerusalém, de que falam os Actos dos Apóstolos (cf. 2, 42-47), que ouvimos na segunda Leitura. É uma comunidade onde se viveo essencial do Evangelho, isto é, o amor, a misericórdia, com simplicidade e fraternidade.
E esta é a imagem de Igreja que o Concílio Vaticano II teve diante de si.João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restabelecer e actualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos. Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fazem crescer a Igreja. Na convocação do Concílio,São João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado, guiado pelo Espírito. Este foi o seu grande serviço à Igreja; por isso gosto de pensar nele como o Papa da docilidade ao Espírito Santo.
Neste serviço ao Povo de Deus, São João Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de ser lembrado: como o Papa da família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do Céu».

«Logo que foram postos em liberdade, foram ter com os seus e contaram-lhes tudo quanto os sumos sacerdotes e os anciãos lhes tinham dito. Depois de tudo terem ouvido, ergueram a voz a Deus, numa só alma, e disseram:"Senhor, Tu é que fizeste o Céu, a Terra, o mar e tudo o que neles se encontra. Tu disseste pelo Espírito Santo e pela boca do nosso pai David, teu servo:'Porque bramiram as naçõese os povos formaram vãos projectos? Levantaram-se os reis da Terra e os chefes coligaram-secontra o Senhor e contra o seu Ungido.' Sim, realmente, Herodes e Pôncio Pilatos coligaram-se nesta cidade com as nações e os povos de Israel, contra o teu Santo Servo Jesus, a quem ungiste, para levarem a cabo tudo quanto determinaste antecipadamente, pelo teu poder e sabedoria. Agora, Senhor, tem em conta as suas ameaças e concede aos teus servos poderem anunciar a tua palavra com todo o desassombro, estendendo a tua mão para se operarem curas, milagres e prodígios, em nome do teu Santo Servo Jesus". Tinham acabado de orar, quando o lugar em que se encontravam reunidos estremeceu, e todos ficaram cheios do Espírito Santo, começando a anunciar a palavra de Deus com desassombro». Act 4,23-31

domingo, 27 de abril de 2014

Um livro de cabeceira para esta Páscoa

Gustavo Gutiérrez e Gerhard Muller, o primeiro
da América latina e o segundo da Europa. 
Desde os tempos dos estudos de Teologia, me gostava bastante ler as reflexões de Gustavo Gutiérrez e a sua escola de pensamento eclesial: Teologia da Libertação.
Ainda recordo o dia que escapando da Universidade (Faculdade de Teologia) como Nicodemos, fui ao auditório da Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa para escutar, deleitado, ao teólogo Leonardo Boff na apresentação do seu livro: "Saber cuidar. Ética do humano - compaixão pela terra".
Era a onda ecológica! Gostei bastante de escutar a este pensador e teólogo discorrer sobre a busca humana do bem común e da sua interpretação teológica. Na verdade, olhando para trás e fazendo uma re-leitura, vejo com tristeza que naquela altura a 'minha' Faculdade de Teologia tenha marginalizado este teólogo, enquanto que os ditos "pagãos" conseguiam já, nesse tempo, descobrir os sinais de Deus no seu pensamento.
Enfim, nem sempre os ditos baptizados, os ditos filhos de Deus, sabemos ter olfacto para sentir o Deus peregrino no nosso caminhar... E, neste tempo de Páscoa, para sintonizar mais o meu pensar e sentir com o de Francisco de Roma ir aproveitar para ler este livro. Valerá a pena...

Meu Senhor e Meu Deus!

Neste domingo de Pascoela e início da segunda semana de alegria, a primeira leitura diz-nos que os crentes, os primeiros cristãos viviam todos unidos e tudo tinham em comum, na partilha do pão quotidiano e nas orações.
No evangelho, escutámos falar sobre a casa que os discípulos habitam. É uma casa com umas portas fechadas, bem fechadas! Aliás, é a normal reacção ao medo. Perante ele, empregámos o verbo "fechar". "Fechar portas", "cerrar fileiras", "marcar distância", "construir muros" e "colocar arames"... é o espontâneo frente ao desconhecido.
Cristo Ressuscitado caminha com o povo que peregrina
O medo leva a "protegermo-nos". Quem não tem a experiência de se trancar? Dizemos que um doente está "acobardado" quando a doença parece que o domina, encontra-se sem futuro. É o que João nos diz dos discípulos. Eles "fecharam-se", "isolaram-se" daqueles que condenaram o seu Senhor.
Cada um sabe bem de quê e de quem se esconde. Cada de nós leva dentro de si os seus medos. Os medos e temores levam a "resguardarmo-nos", a pormo-nos a salvo!
É nesta situação que a Força de Deus aparece, para que o seu poder brilhe. Os que professam e proclamam que Jesus vive não são crentes intrépidos, são homens medrosos! Se neles resplandece a fé não é pela sua força é, antes, pela acção de Deus.
É-nos familiar a expressão: 'não sei onde fui buscar tantas forças'. Há momentos em que experimentamos que Alguém dentro de nós nos dá uma força que não sabemos explicar. Deus opera em nós coisas grandiosas que nos assombram; em primeiro lugar a nós mesmos!
Quando nos deixamos conduzir por Deus, o que parecia impossível torna-se possível. Talvez, não nos demos conta de que Deus continua a agindo na nossa vida: ressuscitando-nos e libertando-nos dos nossos medos que nos aprisionam!

Como sucedeu com os teus discípulos, também eu tenho momentos de medo.
Por vezes, deixo-me arrastar pelas dúvidas e esqueço-me da tua presença segura na minha vida.
Quando me afasto de Ti, quando me desoriento, quando não vivo uma entrega autêntica, a minha vida agita-se e envolvem-me as preocupações, até voltar a percorrer a vida conTigo.
Então recupero a confiança; Tu fortaleces a minha debilidade, enches-me com a tua paz e tranquilidade, recupero a calma perdida e a minha vida torna-se uma festa.
Nunca permitas que me separe de Ti, não deixes que duvide da Tua presença firme.
Não permitas que actue sem a confiança posta em Ti e no teu amor. ConTigo estou seguro!

«Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse: "A paz seja convosco!" Depois, disse a Tomé: "Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel". Tomé respondeu-lhe: "Meu Senhor e meu Deus!" Disse-lhe Jesus: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!"» Jo 20,26-29

domingo, 20 de abril de 2014

A alegria pascal!

«Esta é a noite, em que Cristo, quebrando as cadeias da morte, Se levanta glorioso do túmulo». Assim, se canta, alegremente, no Precónio Pascal. Cristo ressuscitou! Aleluia!
Lhes comparto umas tantas fotografias da Vigília Pascal, que se realizou aqui no Mosteiro do Paular, iniciando-se pelas 23.30 hrs do Sábado Santo e terminando perto da 1.30 hrs do Domingo de Páscoa.
Aqui fica o registo:
Antes do início da celebração, assim luzia a Igreja Conventual do Paular.
Oração da Bênção do Fogo Novo pelo Pe. Prior.
Com o Fogo Novo se acende o Círio Pascal
pelo Pe. Prior, coadjuvado pelo Pe. Joaquim.
O acender do Círio Pascal.
Eis a Luz de Cristo, graças a Deus!, na porta de entrada da Igreja
Conventual do Paular com os sacerdotes assistentes.
Entrada em procissão na Igreja Conventual.
A Luz de Cristo rasga a escuridão da noite!
Cristo ressuscitou! Aleluia!
Círio Pascal, símbolo litúrgico da victória de Cristo!
Cristo ressuscitou! E da morte nos livrou!
O Pe. Prior incensa o Círio Pascal.
A Homilia da Vigília de Páscoa.
"Vi a água viva"! Canto para a renovação das promessas
baptismais e aspersão da água benta.
Apresentação das Oferendas no Altar.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna!
Cristo ressuscitou! De coração alegre e espírito entusiasmo,
vamos anunciar que a Vida venceu a morte!
«Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia, dizendo que o Filho do Homem havia de ser entregue às mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia». Lc 24,5b-7

sábado, 19 de abril de 2014

A nossa herança...

O lavatório dos pés na paróquia San David Roldán Lara,
na quinta-feira santa de 2013.
As palavras do Papa Francisco foram poucas, audiveis e claras. O local escolhido, Centro " Santa Maria da Providência" que atende pessoas discapacitada, para celebrar a Missa da Ceia do Senhor apregoa alto e bom som, só por si, o que ele tem pedido constantemente à igreja: ir à periferia. Na minha pobre opinião, não haveria mais contendência na mensagem e no espirito que se transmite e dar exemplo com criatividade e novidade.
Mais do que ser um gesto bonito ou fotogénico, ou de querer manifestar um suposto afã de ser notícia pela ousadía de não celebrar na Basílica de São Pedro, o gesto do Papa nesta quinta-feira santa é bem eloquente 'ad intra': somos para servir e estar sempre do lado dos mais desprotegidos pela sociedade. E, servir, com alegria, como mãe que vai visitar e acolher, abraçar, numa palavra: amar com toda a força da expressão!
Num ambiente familiar e intimo, pois o coro era formado pelos voluntários e internos que cada domingo cantam nas celebrações neste centro (achei espectacular este detalhe, porque geralmente há sempre quem. fazendo o ridiculo, queira aparecer para a fotografia e para mostrar o melhor traje que comprou!), o papa pediu aos sacerdotes, aos fiéis, numa palavra, à Igreja que viva este gesto de amor como um serviço recebido em herança de amor.
A Via Sacra ao Vivo na paróquia San David Roldán Lara,
na sexta-feira santa, sendo o pároco de Cireneu.
«É como a herança que nos deixa. Ele que é Deus se fez servo, servidor nosso. E esta é a herança: também vós deveis ser servidores uns dos outros. E Ele fez este caminho por amor: também vocês deveis amar-vos e serdes servidores no amor». Juntando estas palavras às que disse nesta mesma quinta-feira santa de manhã na missa crismal, penso que é fácil de ver que são palavras que lhe saiem do coração, mas de um coração que serve e que ama, que late por Deus e pelos homens e mulheres.
As 12 pessoas assistidas, a quem foram lavados os pés, com idades compreendidas entre 16 e 86 anos e com doenças ortopédicas, oncológicas e neurológicas, simbolizam as velhas e as novas formas de fragilidade e exclusão, nas quais cada cristãos, cada sacerdote, cada baptizado é chamado e convidado a reconhecer o Cristo sofredor e a dedicarmos a nossa solidariedade na caridade e na comunhão.
A herança da Última Ceia, que fazemos memória actualizada em cada Eucaristia, é precismente esta: estar ao serviço, dar conforto, acompanhar, não deixar ao abandono, apoiar, proteger, abrir as portas ao coração misericordioso de Deus aos que vivem ao nosso lado, porque Deus é Pai, é Filho, é Espírito Santo. Deus que é comunhão de três pessoas no amor e não uma muito bonita e brilhante ideia filosófica ou científica a trasnmitir ou a aprender. O ser baptizado, o ser discípulo de Jesus é isto mesmo: lavar os pés; é dizer com a vida em actos concretos o que disse, com prontidão, Maria ao anjo Gabriel aquando da anunciação: "Faça, eis a escrava! Estou ao serviço! Eis-me aqui!"
Baptismo de Adultos na paróquia San David Roldãn Lara
na Vigilia de Páscoa em 2013.
Nesta quinta-feira santa, aqui no mosteiro do Paular, na Santa Missa fez-se também o gesto do lavatório de pés. Este ano, tristemente, tocou-me assistir! Antes de começar a Santa Missa, meio a brincar, meio a sério, perguntei ao monge Martin, que é o encarregado da liturgia, se como faz o papa Francisco se não estariam mulheres para lavar os pés, pois no grupo dos apóstolos, previamente definidos e que nos acompanhavam, estavam apenas homens. Com cara de traquina, e com o dedo apontando para o Padre Prior, rapidamente me respondeu: "Aqui não há isso!".
Claro que com este episódio anedótico, não estou a criticar as opcções tomadas nem a fazer juizos de valor sobre as mesmas. Apenas o que se nota, e é claro nos nosso gestos, é que o espirito de discípulo alegre de Jesus que o papa Francisco querer, mais e mais, incutir à Igreja, parece ter muitas resistencias a vencer. Começam pelos pastores, grupo ao qual me incluo.
Ora por motivos de liturgia, de espiritualidade ou de formação cristã, ora por causa dos valores culturais ou esquemas mentais, somos muito lentos de coração e tardos de espírito. Mas a herança que nos deixou Cristo como mandamento, como o seu testamento, a sua vontade para que a vivamos e amemos, a fazer-se carne em nós é esta: seremos servidores dos outros sem olhar à cor, à raça ou à idade! Nisto consiste a verdadeira felicidade, a verdadeira alegria em ser seu discípulo!

«Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me 'o Mestre' e 'o Senhor', e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também. Em verdade, em verdade vos digo, não é o servo mais do que o seu Senhor, nem o enviado mais do que aquele que o envia. Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puserdes em prática». Jo 13,12-17

Um retábulo único...

Para quem entrar, por vez primeira na Igreja Conventual do Mosteiro do Paular, ficará super impressionado: de imediato, nos reclama toda a nossa atenção o grandíssimo retábulo do Altar-Mor.
Como se pode ver na foto a lado, são 16 cenas biblicas que, como boa catequese, nos contam os momentos mais importantes da vida de Jesus. Estas cenas biblicas foram feitas no local por artesãos de Génova, contratados pelo doador: Rei João II de Castela.
O material usado é alabastro italiano. Segundo os entendidos na matéria, é uma obra única em toda a Europa... realmente, impacta pela grandiosidade e pelos detalles dos acabados e das feições das personagens. Nem quero imaginar quanto tempo e quanto material não foi preciso para lavrar esta imensa obra de arte cristã!
Ao centro está a imagem de Nossa Senhora do Paular e depois tem 4 patamares com as cenas bíblicas: desde o anuncio do anjo até à ressurreição! Dá para uma boa aula de catequese e mais, ainda seja uma tanto incómodo para o pescoço!...

O nosso aceite, é alegre ou rançoso?

Unção Sacramental... dom de Deus!
São as palavras do papa Francisco, proferidas na homilia da missa crisma desta quinta-feira santa: «Se não sais de ti mesmo, o óleo torna-se rançoso e a unção não pode ser fecunda. Sair de si mesmo requer despojar-se de si, comporta pobreza».
São palavras que chamaram a atenção da comunicação social. Não havia jornal que não tocasse o tema. Aliás, a sua homilia, mais que homilia é o seu jeito simples de partilhar a sua vida e fé, a sua espiritualidade. Como um perfume que se usa e não necessita de publicidade ou de muitas explicacções (clicando aqui pode lê-la). E, chama a atenção precisamente por isso mesmo. Não dá classe nem é aula dissertativa sobre um tema com palavras eruditas, ou domingueiras, ou muito floridas que ninguém entende, mas que soa bem. Ou, como dizia alguém depois de ouvir um sermão de quarta-feira de cinzas: o senhor abade falou bem, mas não entendi nada do que disse!
A sua linguagem é, ao contrário, terra a terra. O povo entende, e bem, entende mesmo bem demais as suas palabras. E não é só entender, guarda-as no coração! Por isso, ele sempre nos diz que temos de ser Povo de Deus... Imagino-o a caminhar e palmilhar as ruas de Buenos Aires, entrar nos seus becos, nos seus bairros e ver nos pés o pó da estrada, o pó da terra, que nos diz que somos peregrinos e que a Igreja é chamada a ir ao encontro, a fomentar a comunhão, a partir o pão, a não ficar bem instalada no pavimento da Igreja bem construida... 
Friso, apenas, as três ideias que ele pediu aos sacerdotes nunca as perderem de vista nem do coração no nosso dia e nos nossos múltiplos fazeres quotidianos: sentir a alegria que nos unge, alegria esta que não se corrompe e a alegria missionária da fé.
Penso que é fácil deducir que el deseja criar uma espiritualidade cristã baseada na alegria. Primeiro nos escreveu a "Alegria do Evangelho", constantemente nos diz que há que viver a fé com alegria, com autenticidade e entusiasmo e agora nos pede que sejamos portadores de alegria, pois, remata ele, a alegria tem três irmãs gemeas: pobreza, fidelidade e obediência!
Só assim se poderá viver "a alegria da Cruz, que dimana da certeza de possuir um tesouro incorruptível num vaso de barro que se vai desfazendo. Saibam estar bem em qualquer lugar, sentindo na fugacidade do tempo o sabor do eterno (Guardini). Sintam, Senhor, a alegria de passar a chama, a alegria de ver crescer os filhos dos filhos e de saudar, sorrindo e com mansidão, as promessas, naquela esperança que não desilude".

«Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa». Jo 15,9-11

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Uma nova Igreja

Depois da oração "Hora Sexta" na Igreja Conventual do Mosteiro, nos dirigimos para o refeitório 'grande' ou "de Festas", como lhe chamam os monges, para ir tomarmos o respectivo almoço do dia. Foi, como sempre, uma comida frugal. 
Quando já todos os hóspedes pensávamos que se iria terminar a refeição, como habitualmente, pois neste mosteiro para anunciar o fim da hora de almoço o Padre Prior dá um toque com uma campainha que está na sua mesa, eis então que ele a toca mas para avisar a todos que seria servido um cálice para celebrar o dia da fraternidade.
À saída do refeitório, o Pe. Graciano, um espanhol com os seus 60 e troca o passo e que antes de ser sacerdote foi guarda civil, sempre bem disposto, segredou-me ao ouvido dizendo: "Já observaste que a maioria são leigos? Os monges cartuxos fizeram este mosteiros só para eles, com grandes paredes que os separavam do contacto exterior e agora os que ocupam e dão vida a este edifício são os casais e os jovens que buscam oração, silêncio e encontro com Deus! Não achas que é uma Igreja nova?"
Como tinha apenas terminado de deglutir o último pedaço de pão, meio atrapalhado, lá lhe disse que sim. Na realidade, disse-lhe que nota-se uma nova alegria e um nova maneira de ser Igreja. Depois, os dois entrámos pelo corredor interno de acesso ao claustro e, no qual o silêncio é obrigatório, assim que, de bico fechado, fomos os dois caminhando, lado a lado.
Passando a porta de entrada no claustro, disse-lhe: "É a Igreja do Papa Francisco!" Rimo-nos os dois. E acrescentou ele: "De facto, é uma mudança enorme! Estas paredes feitas por homens e para homens..." E, apontando para o cemitério que está no jardim interior, atira: "Devem os pobres dos monges estarem a dar voltas e mais voltas nas suas tumbas!!"
De caminho para o meu quarto, vinha pensando no que, em jeito de amena cavaqueira, acabámos de partilhar. Se antes, o viver um retiro era matéria exclusiva, hoje em dia é uma riqueza partilhada, e muito saboreada pelos leigos. E, cuidado, já não querem - é muito bem para eles e para nós também! - um retiro qualquer... agora há a 'nova' moda (perdão, de nova não tem nada!) de fazer retiros de umas quantas horas: entras às 10 am e sais às 5 pm! Penso que só agora, passados 50 anos, começámos a cheirar um pouco os documentos conciliares e ao seu espírito de ser Povo de Deus, ou como tem dito o Papa Francisco: ser rebanho que busca novos pastos-caminhos!
De este grupo de hóspedes, somos um total de 40 pessoas, só 6 padres. O resto são casais, jovens solteiros e viúvos. Ora, aqui está o Povo de Deus que cresce partilhando e, partilhando, descobre o rostro de Deus no seu peregrinar.

«Vós, porém, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido em propriedade, a fim de proclamardes as maravilhas daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável; a vós que outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia» 1Ped 2,9-10

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Hospitalidade Beneditina...

Antiga porta do Mosteiro.
Segundo o dramaturgo romano Plauto, "não existe hóspede, por mais amigo que seja de quem o recebe, que não comece a incomodar depois de três dias".
No México, aprendi um dito que diz algo, mais ou menos, parecido à deste escritor latino: "O morto e o convidado aos três dias começam a cheirar mal".
A experiência, que tenho tido neste mosteiro beneditino, mostra-me que estes ditos, talvez, sejam verdadeiros quando não há na raiz do acolhimento hospitaleiro uma motivação de fé para receber alguém que nos oferece a sua visita. 
Segundo a regra de São Bento, um mosteiro ao receber um hóspede ou um peregrino, realmente a quem estão recebendo é ao próprio Cristo. No número 53 deste regra, aí podemos observar esta espiritualidade beneditina como arte cristã de bem receber e dar pousada: «[1]Todos os hóspedes que chegarem ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo, pois Ele próprio irá dizer: "Fui hóspede e me recebestes". [2]E se dispense a todos a devida honra, principalmente aos irmãos na fé e aos peregrinos. [3]Logo que um hóspede for anunciado, corra-lhe ao encontro o superior ou os irmãos, com toda a solicitude da caridade; [4]primeiro, rezem em comum e assim se associem na paz. [5]Não seja oferecido esse ósculo da paz sem que, antes, tenha havido a oração, por causa das ilusões diabólicas. [6]Nessa mesma saudação mostre-se toda a humildade. Em todos os hóspedes que chegam e que saem, adore-se, [7]com a cabeça inclinada ou com todo o corpo prostrado por terra, o Cristo que é recebido na pessoa deles. [8]Recebidos os hóspedes, sejam conduzidos para a oração e depois sente-se com eles o superior ou quem esse ordenar. [9]Leia-se diante do hóspede a lei divina para que se edifique e depois disso apresente-se-lhe um tratamento cheio de humanidade. [10]Seja o jejum rompido pelo superior por causa dos hóspedes; a não ser que se trate de um dos dias principais de jejum, que não se possa violar; [11]mas os irmãos continuem a observar as normas de jejum. [12]Que o Abade sirva a água para as mãos dos hóspedes; [13]lave o Abade, bem assim como toda a comunidade, os pés de todos os hóspedes; [14]depois de lavá-los, digam o versículo: "Recebemos, Senhor, vossa misericórdia no meio de vosso templo". [15]Mostre-se principalmente um cuidado solícito na recepção dos pobres e peregrinos, porque sobretudo na pessoa desses, Cristo é recebido; de resto o poder dos ricos, por si só, já exige que se lhes prestem honras. [16]Seja a cozinha do Abade e dos hóspedes separada, de modo que os irmãos não sejam incomodados, com a chegada, em horas incertas, dos hóspedes, que nunca faltam no mosteiro. [17]Entrem todos os anos para o trabalho dessa cozinha dois irmãos que desempenhem bem esse ofício. [18]Sejam-lhes concedidos auxiliares quando precisarem, para que sirvam sem murmuração; e do mesmo modo, quando têm menos ocupação, deixem esse ofício, para trabalhar no que lhes for ordenado. [19]E não só em relação a esses, mas em todos os ofícios do mosteiro, seja este o critério: se precisarem de auxiliares, [20]sejam-lhes concedidos; por outro lado, quando estão livres, obedeçam ao que lhes for ordenado. [21]Do mesmo modo, cuide do recinto reservado aos hóspedes um irmão cuja alma seja possuída pelo temor de Deus: [22]haja ali leitos suficientemente arrumados e seja a casa de Deus sabiamente administrada por monges sábios. [23]De modo algum se associe ou converse com os hóspedes quem não tiver recebido permissão: [24]se encontrar ou vir algum deles, saúde-o humildemente, como dissemos, e, pedida a bênção, afaste-se, dizendo não lhe ser permitido conversar com os hóspedes».
Refeitório dos dias de Festa.
Desde que cheguei a este mosteiro, na passada sexta-feira, 11 de Abril, tenho sentido este sentido de hospitalidade aliado a outro que vem confirmar: o da liberdade. Cada hóspede é tratado com liberdade, uma vez que a única coisa que é pedida é a participação nas Laudes, Hora Intermédia e Vésperas com Missa com a respectiva refeição ao término destes momentos de oração comum.
Apenas o Padre Prior nos cumprimenta, dando-nos as boas-vindas a esta Casa de Deus. É interessante notar que nenhum dos demais membros desta comunidade monástica se nos acercam aos hóspedes para nos perguntarem o nosso nome ou o que nos levou a vir ter com eles ou de onde procedemos. Na realidade, somos tratados como peregrinos em busca de Cristo e respeitados como tal. O perfume de São Bento segue dando frutos e criando espiritualidade.
Um aspecto curioso foi notar que los 20 hóspedes que estamos no mosteiro 15 pessoas destes são leigos (casais e solteiros) que buscam nas suas pausa laborais um tempo de oração e recolhimento. Somos 5 sacerdotes, sendo eu o único sacerdote religioso. Somos de diferentes idades. Como podemos observar, a espiritualidade é 'algo' muito buscado, procurado pelo povo de Deus. Isto faz-me lembrar as palavras de Francisco na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium quando diz que para ser missionário é necessário dar um mergulho no coração do povo e sentir-se como povo de Deus que com a força do Espírito Santo busca e caminha para a terra prometida.

«Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo». Ap 3,20

terça-feira, 15 de abril de 2014

Não vi o Eclipse...

Todo o mundo falava no eclipse de esta terça-feira. Não, não o vi.
O que tenho visto é que a Lua nestes dias que antecedem a Páscoa é cada vez mais clarinha e parece uma bonita bolinha de queijo!
Ontem à noite, fui para o jardim interior do mosteiro, à qual os hospedes temos acesso por uma porta meia escondida.
Nele andava a passear Mário, jovem monge que fumava antes de deitar-se, assim me confidenciou na breve conversa que tivemos, pois já era hora do Grande Silêncio.
Depois de ter feito o seu noviciado, por problemas surgidos na sua família tem estado, ora dentro do mosteiro, ora fora atendendo à sua família. Esta Semana Santa veio viver-la com a sua comunidade.
Contou-me ele que o jardim do mosteiro onde nos encontrávamos foi, durante mais de 600 anos, o cemitério do mesmo e que ainda hoje serve de cemitério. Há duas semanas atrás tinham enterrado, neste mesmo jardim, um monge beneditino.
Estava algo escuro esta noite e ao ouvir isto, disse a mim mesmo que era melhor ir para dentro, para o quentinho do meu quarto, porque não fosse o diabo ser tendeiro... mas ainda consegui fazer umas tomas fotográficas para recordar o momento. 

«O Senhor é bom para os que nele confiam, para a alma que o procura. Bom é esperar em silêncio a salvação do Senhor. É bom para o homem carregar o jugo, desde a sua juventude. Que se recolha em silêncio, quando o Senhor o põe à prova; que ponha a sua boca na cinza, talvez encontre esperança; que apresente a face a quem o fere, e suporte as afrontas». Lm 3,25-30

Um bosque seco!

Todas as tardes, caminho umas duas horas pelo bosque que circunda o mosteiro. Ao longe, no cimo das montanhas, vê-se a neve em degelo... os dois riachos que estão perto deste mosteiro correm furiosos levando a sua água com bastante pressa e música...
Ontem à tarde, caminhei mais do que é habitual e, por isso, me adentrei mais neste bosque. A certa altura deste meu peregrinar, me dei conta de estar surpreendido por não ver folhas nas árvores e estas estarem completamente secas, ou pelo menos assim o aparentam.
No chão, vê-se que há uma capa de musgo que está verdejante e que, lentamente, vai crescendo. Enquanto ia caminhando neste bosque de paus secos, fui pensando se a sociedade actual não estaria assim como este bosque: seca, sem vida, gasta e quebradiça... Ou, se a Igreja actual também ela não estaria assim de ressequida, ainda que, no seu subsolo, já germine uma vida e nasça uma esperança.
Também vi, neste bosque, uma metáfora da Semana Santa: uma semana de uma drama trágica de morte, de injustiça, de maldição e de solidão, e que pela ressurreição é transformada em vida, esperança e alegria.

«Tendo acabado todos estes discursos, Jesus disse aos discípulos: "Como sabeis, a Páscoa é daqui a dois dias, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado"». Mt 26,1-2

Livro de Cabeceira e não só...

Estou em crer que seguramente Tomás Halik não pensaria que o seu livro ajudaria nas meditações de um retiro ou para uma re-leitura da experiência missionária. Ainda que ele afirma que escreveu este livro durante a sua estadia num mosteiro...
No entanto, ao ler este livro vieram-me à cabeça muitas perguntas, muitas interrogações... Nunca antes tinha olhado para o episódio de Zaqueu da forma como autor o apresenta e comenta. Penso que se o tivesse lido, antes de assumir alguns trabalhos, os tinha visto e compreendido de uma outra maneira e, talvez, quem sabe, me tivesse ajudado mais...

«Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali». Lc 19, 3-4

Domingo de Ramos no Mosteiro

Mesa de serviço para a missa de Domingo de Ramos.
A celebração do Domingo de Ramos começou ás 12 hrs em ponto com a bênção dos ramos na esplanada do Hotel Sheraton El Paular.
Convém referir que esta cadeia internacional de hotéis têm, aqui no Mosteiro, um espaço alugado à comunidade beneditina e que presta o seu serviço aos turistas que desejam visitar este lugar. Pois, este mosteiro beneditino está inserido no que é chamada a estância turística de inverno da comunidade de Madrid (região de Madrid). Há também um lugar para a prática de ski, de caminhadas, de acampamento, de turismo rural.
O mosteiro, integrado nesta zona turística, com o hotel Sheraton El Paular, ajuda a que haja uma oferta mais amplia e mais próxima do religioso.
Interior da Igreja Conventual
com o retábulo único e original.
Após a bênção dos Ramos, iniciou-se a procissão deste dia. Foram cerca de 45 minutos de peregrinar na área envolvente ao Mosteiro. Entrou-se pelo claustro e finalizou-se esta procissão na Igreja conventual, onde se celebrou a Missa de Domingo de Ramos.
Esta celebrações foi animada pelo coro "Salve Mater", que é uma espécie de amigos dos Canto Gregoriano e amigos deste Mosteiro. Grande parte do cantos foram entoados em latim...
Presidiu o Prior, Pe. Miguel, beneditino. Concelebrámos mais três sacerdote comigo: o Pe. Joaquim, também ele beneditino, o Pe,  Graciano, que é diocesano de Madrid e que veio também ele realizar uma semana de silêncio; o Pe. Rodrigo que é diocesano de Ciudad Real e que está vivendo nesta comunidade beneditina, uma vez que se encontra em ano sabático.
Entrada ao Mosteiro
pelo Hotel.
Neste mosteiro vivem actualmente 7 monges beneditinos: para além dos dois sacerdotes beneditinos (o Prior mais o Pe. Joaquim), estão os dois monges Martin e Eulógio, dois  postulantes, José (que é o monge hospedeiro) e um que não sei o seu nome e um aspirante a monge, do qual também desconheço o seu nome.
Segundo rezam os anais da história deste mosteiro, foi fundado em 1390, quando se deu início à sua construção. Depois de 600 anos de história, foi "tirado" à Ordem Cartuxa (uma ordem monástica de vida contemplativa fundada por São Bruno de Colónia) pela compra de particular ao abrigo das famosas leis da desamortização de Mendizábal (período liberal, 1823).
Claustro com São Bento
ao fundo à direita.
Este mosteiro passou por uma fase negra. Neste época de administração de particulares, pois este tinham comprado o mosteiro ao Estado, uma vez que era um bem adquirido pela nação e que devia render. Se destruiu muitas peças valiosas, muitos produtos agrícolas foram oferecidos e desbaratados. Tinha uma enorme colecção de 54 quadros a óleo do famoso pintor Vicente Carducho (podem ver-las clicando aqui) que se perderam, que foram vendidos, entregues a museus. Enfim, como diz o dito, água o deu, água o levou!
Felizmente, graças ao esforço do Museu del Prado e várias fundações, quase 100 anos depois, regressaram aos claustros deste mosteiro. Actualmente, se podem apreciar, contemplar esta série fabulosa que nos conta a vida de São Bruno e da ordem por ele fundada no século XI.
Além do edifício monástico, este mosteiro possui uma grande porção de terreno cultivável. Segundo reza a história, os monges cartuxos trouxeram terra negra, própria para agricultura para os terrenos deste mosteiro.
A porta de acesso ao exterior.
Ainda hoje há uma enorme extensão agrícola, um grandíssimo jardim com plantas medicinas, que é fruto da colaboração de uma fundação com a comunidade beneditina aqui instalada. De notar que há um interesse por continuar a tradição "ora et labora" e buscar novas maneiras de dar uso a esta sabedoria monacal.
São Bento, quando fundou a sua ordem, buscava evangelizar a Europa pela dinâmica das 'duas mãos': com uma mão rezas e com a outra trabalhas. As actuais grandes cidades e os grandes centros do saber devem a este génio que foi São Bento o que hoje são.
A própria Europa desenvolveu-se devido aos numerosos mosteiros que se foram construindo um pouco por todos os pais. Pois na medida em que iam crescendo, atraiam e fixavam as populações. São Bruno, tomando a regra beneditina, seguiu este mesmo caminho, mas com uma variante no modo de viver: a vida monacal solitária.

«As multidões que tinham chegado para a Festa, ao ouvirem que Jesus vinha a Jerusalém, pegaram em ramos de palmeiras e saíram-lhe ao encontro, clamando: "Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!"». Jo 12,12-13

domingo, 13 de abril de 2014

Bota fè - The Movie

O site Aleteia (www.aleteia.org) publicará brevemente um filme sobre a visita do Papa Francisco ao Brasil no verão passado, no marco da Jornadas Mundiais da Juventude. Como associado desta rede social católico, com gosto partilho convosco o vídeo Bota Fé. Aqui fica feita a partilha. Vejam, divulguem, partilhem!
Enfim, nunca é demais expressar-lo: vamos alargar a rede e em rede!
Espero e seja do vosso agrado. Feliz Páscoa!


Retiro de Semana Santa: Rascafria

Real Monasterio de Santa Maria del Paular, Rascafria
Depois de várias semanas santas cheias de trabalho, com actividades semanais e bonitas celebrações ao vivo e com multidões, decidi que a semana santa deste ano seria de uma mudança total: silêncio e oração interiores. Como que buscava um outro olhar para o mistério da Cruz e Ressurreição
Para poder realizar este projecto, busquei na internet os mosteiros beneditinos. Queria assim como hospede, - os irmãos queridos e amados por São Bento -, viver a Semana Santa de acordo à liturgia monacal e com a Lectio divina.
Para que a distância entre o sonhar e o viver não fosse muito comprida, escolhi o mosteiro beneditino de Rascafria, que situado na serra de Guadarrama, a uns 100 km ao norte da cidade de Madrid.
Foi recebido pelo monge hospedeiro de origem cabo-verdiana. Seu nome José Benvindo, natural de Pedra-Badejo, Santiago, Cabo-Verde.
Tive a felicidade, - na verdade Deus tem sempre muitas surpresas! -, de fazer o caminho de Madrid até Rascafria com o casal Delfino e Carmen, uns amigos do Pe. Victor Cabezas, espiritano espanhol, e que também vieram a este mosteiro beneditino viver um retiro de silêncio antes da semana santa. E, vai de aí, a feliz boleia que me ofereceram.
Acesso ao Mosteiro
Depois de uma hora de viagem, chegámos a Rascafria. Eram quase as duas da tarde, hora de Oração Sexta e da comida. Deixando as nossas pertenças na mala do carro, fomos, seguindo o nosso monge-guia, até à capela da comunidade onde rezámos a Hora Sexta do Breviário.
Após este momento de canto e oração, no silêncio próprio deste lugar, passámos ao refeitório. Em silêncio, degustámos o parco e sóbrio almoço preparado.
Minutos mais tardes, o monge José mostrou-nos os quartos que nos correspondiam. E, em jeito de despedida à boa maneira beneditina, nos exortou: "sois nossos hospedes! Mas, aqui, todos somos hospedes e peregrinos do Senhor! Boa estância e desfrutem"! E sumiu-se caminhando pelo estreito corredor da zona dos quartos...

«Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te. Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes.» Mt 6,6-8