quinta-feira, 11 de junho de 2009

Maio, mês de ... gripe, de "influenza" e outras influências...

Com um ar de uns sessenta anos, dobrados pelo trabalho duro do campo e a pele morena com umas manchas queimadas pelo sol ardente, próprio desta terra Huasteca, Alberto é um catequista da comunidade de “El Progreso”. Casado há trinta anos, pai de seis filhos, para ele explicar o catecismo aos jovens, que se preparam para a confirmação, é um verdadeiro prazer. E os jovens gostam de escutar-lo...
No passado dia 03 de Maio, que foi um domingo, aqui, no México, celebrou-se a Festa da Santa Cruz (é o dia de festa da Construção civil). Em todas as construções, havia cruzes por todo o lado. Por causa da “Influenza”, nome engraçado para esta gripe, não podemos celebrar a Santa Cruz na comunidade de Elipte, nem contar com a visita do Senhor Bispo de Ciudad Valles.
Continuando com a nossa história, o Senhor Alberto, como toda a gente da paroquia de San António de Padua, sabia que no dia 03 de Maio, como cada ano, nos reunimos na comunidade de Elipte para celebrar a Festa da San Cruz. Ficou de olhos 'semi-esbugalhados' quando chegou à Igreja paroquial e a encontrou de portas fechadas.
Mas mais admirado ficou, quando queria cumprimentar-me e lá lhe disse que não era recomendável cumprimentar de aperto de mão, por que o Ministro da Saúde tinha pedido que durante quinze dias não houvessem nem assembleias nem reuniões. Tudo para não se alastrar a propagação do vírus da gripe.
Depois de três de dedos de conversa, Sr. Alberto, com o seu sorriso maroto, perguntou-me: “Mas, ó Padre, é mesmo verdade isso que você me está a contar?” Não pode conter o sorriso... Com mais uns três dedos de conversa amena, lá intentei explicar que o que lhe dizia era verdade e que, por essa razão, não havia missa da Santa Cruz nem toque dos sinos... Depois desta conversa, e como tinha frisado que não havia toque dos sinos, então o Sr. Alberto, não muito convencido, lá me respondeu: “Bom, Padre, vou então para a minha casa rezar e pedir a Deus que não nos mande já o fim do mundo!!”...
Como podem dar-se conta os últimos acontecimentos nesta terra mexicana, uma vez mais, foram vividos e encarados por duas maneiras diferentes e quase antagónicas. Nas cidades, houve preocupação e algo de medo, o que fez com que a população seguisse as normas e pedidos insistentes do Ministério da Saúde: nada de reuniões, de assembleias, jogos de futebol à porta fechada e pela Televisão, concertos cancelados, festivais anulados, festas suspendidas... enfim, tudo para que o tal vírus não se propagasse, ou melhor, para que a epidemia não se alastrasse mais...
Assim durante quinze dias, a grande metrópole que é a Cidade do México ficou praticamente às moscas. Não havia serviço de metro, de transporte urbano. Imaginem que é uma cidade efervescente com mais de 20 milhões de um dia para o outro ser uma cidade quase fantasma. Contudo, esta atitude social traduz uma grande consciência de solidariedade e de bem comum; por causa desta epidemia provocada por este vírus houve inúmeros empregos que ficaram afectados, em especial, os vendedores ambulantes com as suas tendas móveis que pululam por todas as ruas e vielas da Cidade do México e que vivem do dia a dia.
Enquanto se vivia deste modo na Cidade do México, como também em quase todas as demais cidades mexicanas, em San António, sem escola nem mercado semanal por decreto do governador do Estado, a vida continuava o seu ritmo... Cada manhã, homens como o sr. Alberto, de catana e mochila do lanche às costas, subiam às suas parcelas para cultivar o milho, visto que a épocas das chuvas aproxima-se e o fiel amigo São Isidro Lavrador sempre traz as abundantes chuvas e a temporada dos furacões.
Por isso, passados uns dias, encontrei o sr. Alberto, de caminho para a sua parcela e meio a brincar, disse-me: “Já lhe posso dar um aperto de mão ou ainda?” Sorri e disse-lhe que ainda não, que era melhor prevenir do que remediar. Nos sentámos à sombra da árvore 'Froilán' e falámos um pouco da vida, de como vão as coisas... Do milho que vai perdendo o seu preço, do 'piloncillo' (açúcar de cana) que vai pelo mesmo caminho, dos livros, da roupa e comida que dia com dia vai subindo de preço... Conversámos sobre os jovens que já não querem viver em San António, por que a cidade os atrai, assim como também das eleições que se avizinham e que sempre trazem as eternas promessas por cumprir.
Depois de três quartos de hora em amena cavaqueira, despedi-me dele e decidi seguir o meu caminho em direcção à caminho de Cuechod. Enquanto caminhava, ia pensando para com os meus botões que, de facto, o México tem dois pulmões, no dizer de Octávio Paz: o citadino com o seu frenesim moderno e o indígena e rural, onde o tempo e vida se marcam ao ritmo do campo, das chuvas e das festas tradicionais e, felizmente e graças a Deus, os vírus e as epidemias têm medo de chegar.

«
Por isso, é necessário prestarmos maior atenção ao que ouvimos, para que não nos transviemos. Se, de facto, uma palavra pronunciada pelos anjos permaneceu válida e toda a transgressão e desobediência receberam a justa retribuição, como escaparemos nós, se desprezarmos tão grande salvação? Tendo sido primeiro proclamada pelo Senhor, essa salvação foi-nos confirmada pelos que a escutaram e foi testemunhada por Deus, por meio de sinais e prodígios, por diversas manifestações de poder e pelos dons do Espírito Santo, repartidos segundo a sua vontade». Hb 2,1-4

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