sábado, 22 de março de 2014

III Domingo da Quaresma: Dá-me dessa Água!

Tu és a Fonte de Água Viva!
O elemento central da liturgia deste domingo é a água – símbolo de morte e vida, purificação e símbolo da bênção do próprio Deus que faz “correr rios sobre a terra árida e derramar o seu espírito” (cf. Is 44, 3). Jesus define-se como água viva, infinitamente melhor que a do poço de Jacob.
O Evangelho deste III Domingo da Quaresma coloca-nos diante de uma cena no mínimo caricata: Jesus (um judeu) em plena Samaria, a falar com uma mulher samaritana junto a um poço.
“Neste seu caminhar livre e fecundo entre os estrangeiros, Jesus é mestre de humanidade. É-o para todos, tanto em Lampedusa como nas nossas cidades. É-o com a sua capacidade de ultrapassar as barreiras: as barreiras entre homem e mulher, as barreiras entre gente local e forasteiros («Como é que Tu, sendo forasteiro, me pedes de beber a mim?»), a barreira entre religião e religião («Onde é que se deve adorar a Deus, no nosso monte ou no vosso?»)” (Ermes Ronchi – A Esperança que nasce da Palavra).
“Tinha de atravessar a Samaria” (Jo 4, 4). Jesus estava na Judeia e queria regressar à Galileia. A região da Samaria situava-se entre a Judeia e a Galileia. Porém, não era a única possibilidade de caminho, pois poderia ter subido pelo vale do Jordão (era aí que se encontrava antes de encetar a subida até à Galileia). Contudo, era irresistível a necessidade do encontro esponsal – Deus com a sua esposa perdida.
Cansado da caminhada e no pico do calor, Jesus senta-se na beira de um poço. Surge uma mulher para tirar água do poço. Interpelada por Jesus para que lhe dê de beber, a mulher fica admirada, pois terá percebido que Jesus era da Galileia (os samaritanos e os judeus eram inimigos). Deste encontro de Jesus com a Samaritana nasce um diálogo, que se avizinha fecundo.
Quem representam então as duas personagens junto ao poço? “É evidente quem é a samaritana: é a esposa Israel, que carrega consigo toda a sua história de amores e adultérios; teve muitos «maridos» e o que tem atualmente não é o seu esposo. Jesus encontra-a no poço e quer reconduzi-la ao seu primeiro e único verdadeiro amor, o Senhor” (Fernando Armellini – O Banquete da Palavra, Paulinas Editora).
A humanidade tem sede de paz, felicidade, justiça, amor, de compreensão – as mesmas sedes da samaritana. E Jesus promete uma água viva, uma água que não mais fará sede, que saciará sempre, mesmo nos desertos da nossa vida. Uma água que enche os corações e que transborda de vida, tal como já referia o profeta Isaías (Is 44, 3-4).
O poço de Jesus não se situa no centro do poder civil e religioso do seu tempo, o poço de Jesus não está cheio das muitas certezas condenatórias; mas está cheio das respostas às questões mais íntimas que assaltam os nossos corações. Como cristãos devemos dar resposta às “doenças” da humanidade e resposta que se dá com o silêncio do coração, não com o dedo condenatório que oprime ainda mais e adoece mais ainda quem está doente – ser leito da Fonte de Água Viva – Jesus Cristo.
A mulher não é condenada pelo passado, Jesus não lhe aponta o dedo nem abre um livro de moral com um conjunto de leis, preceitos e regras. “Há um meio, o único meio, de chegar ao poço profundo de cada um, e não é a censura, a crítica, a acusação, mas dar a provar um «pouco mais» de vida, de beleza, de bondade, de primavera: «Dar-te-ei uma água que se torna nascente»” (Ermes Ronchi).
No decorrer do diálogo surge a questão – onde devemos adorar Deus, no vosso monte ou no nosso monte? “Jesus não mandou destruir os locais de peregrinação mas afirmou ser Ele mesmo o verdadeiro santuário, para onde somos chamados a peregrinar. “Adorar a Deus em espírito e verdade é, antes de mais, peregrinar até ao verdadeiro santuário de Deus, que é a Pessoa de Jesus Cristo, que declarou: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim» (Jo 14,6). Aquele que é o Peregrino do Pai fez-se Caminho e Santuário para todos nós que, nele, queremos encontrar a autêntica presença de Deus no mundo: «Templo, não vi nenhum na cidade, pois, o Senhor Deus, o Todo-Poderoso e o Cordeiro são o seu templo» (Ap 21, 22)” (Herculano Alves – Símbolos na Bíblia, Difusora Bíblica). O lugar de culto deixou de ser um espaço de pedra, mas é o próprio corpo de Cristo, templo do Espírito Santo.
Do encontro com Jesus, a mulher nasce como nova criatura e saciada pela água viva torna-se missionária e vai à aldeia contar o que viu e ouviu. Larga tudo, deixa o cântaro para trás (sinal da sua antiga vida) e corre para a aldeia. “A mulher da Samaria compreende que não aplacará a sua sede bebendo até à saciedade, mas aplacando a sede dos outros; que se iluminará, iluminando outros, que receberá alegria, dando alegria. Tornar-se nascente: maravilhoso projeto de vida, nascente de esperança, de acolhimento, de amor.
 Por Nuno Monteiro em iMissio.

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