sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O aviso de Jesus

O evangelho de hoje nos revela um Jesus consciente do que lhe vai acontecer, vivendo isso com confiança e liberdade: "devia ir a Jerusalém, e sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos doutores da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia".
Se alguém quiser seguir-me, que renuncie...
Ele sabia que ser fiel ao Projeto do Pai lhe traria consequências não desejadas, mas inevitáveis. Como disse Raymond Gravel numa das suas valiosas reflexões: "Seguir Jesus é uma escolha cheia de consequências e de compromissos", que podemos ver e consultar em: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523433-seguir-cristo-assumir-riscos-calculados. Jesus sabia do perigo ao qual se expunha se continuasse sua atividade e seguisse insistindo na irrupção do reino de Deus.
Por isso, é claro, àqueles e aquelas que querem seguir suas pegadas, fala-lhes que, nesse caminho de fidelidade, vão encontrar dificuldades, rejeições, perigos, sofrimentos, mas Deus nunca os abandonará. Continuamente ao nosso redor e ainda mais em países ou situações que trazem as redes sociais, conhecemos pessoas que entregaram suas vidas por causa de sua opção e compromisso com os mais pobres.
No texto publicado pelo IHU, no dia 18-08-2014, sobre a beatificação dos 124 mártires cristãos pelo Papa Francisco em sua visita à Coreia, o Papa disse que "os novos bem-aventurados sabiam o preço de serem discípulos, estavam dispostos a grandes sacrifícios e a se deixar despojar daquilo que os pudesse afastar de Cristo: os bens da terra, o prestígio, a honra, porque sabiam que só Cristo era o seu verdadeiro tesouro...". Para o Papa, mártires são "homens e mulheres, minorias religiosas, não são todos cristãos e todos são iguais perante Deus". (Cfr o texto completo na entrevista concedida no avião de regresso a Roma depois da viagem à Coreia).
Voltando ao texto evangélico, lemos que a reação de Pedro diante das palavras de Jesus mostra, por um lado, o amor que ele tem por seu Mestre e, por outro, que ele não tinha ainda compreendido sua proposta: "Pedro levou Jesus para um lado e o repreendeu, dizendo: «Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!".
Como Pedro, nenhum ser humano quer sofrer, nem que suas pessoas queridas sofram! De toda forma queremos evitar o sofrimento, se ser fiel aos princípios pessoais, ao projeto de vida ou a um trabalho ético traz conflitos ou sofrimentos. E a mentalidade de hoje nos convida a abrir mão de tudo isso e buscar o caminho fácil, light, sem estresse.
A atitude de Jesus, a qual também propõe a seus seguidores, é outra. Obviamente, Ele não é masoquista nem suicida. Jesus também não quer o sofrimento! Toda sua vida dedicou-se a combater o sofrimento na doença, nas injustiças, na marginalização, no pecado ou desesperança. Ele não corre atrás da morte, mas também não recua, não foge diante das ameaças, nem modifica sua mensagem, nem a adapta ou suaviza.
Por isso rejeita firmemente a sugestão de Pedro, prefere morrer a trair a missão para a qual se sabia escolhido. Atuaria como Filho, fiel ao seu Pai querido, a seus amigos mais pequenos e abandonados. E, por isso, pede aos seus: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga".
Ser fiel ao Pai como Jesus significa viver dia a dia a coerência de vida de seu Mestre, mesmo num clima de insegurança ou de enfrentamento, renunciando a uma vida de reconhecimento e tranquilidade. Isso só é possível se, como nosso Irmão Maior, vivermos uma confiança total em Deus Pai-Mãe e fizermos de nossa vida uma vida de serviço ao Reino de Deus em favor de todos.
A atitude de serviço inspirou a vida de Jesus e a sua morte: "Eu estou entre vocês como quem serve" (Lc 22,27). Dia a dia, doou-se às pessoas sem importar-lhe se, com isso, se descuidava de sua vida ou se a colocava em perigo, porque irritava as autoridades civis ou religiosas.
Ele é o Servo de Deus (Is 51) e da humanidade. Esse é o sentido último que inspira sua vida e sua morte. A viver desse modo são convidados os cristãos de todos os tempos: na confiança total no Pai e na vontade de servir até o fim.

Oração
(Ao rezar esta oração de Charles de Foucauld,
peçamos ao Deus Pai-Mãe de Jesus que nos conceda ter os mesmos sentimentos,
pensamentos e vontade d’Ele.) 
Oração do Abandono

Meu Pai, a vós me abandono. Fazei de mim o que quiserdes.
O que de mim fizerdes, eu vos agradeço. Estou pronto para tudo, aceito tudo, contanto que a vossa vontade se faça em mim e em todas as vossas criaturas.
Não quero outra coisa, meu Deus! Entrego minha vida em vossas mãos. Eu vo-la dou, meu Deus, com todo o amor do meu coração. Porque eu vos amo e porque é para mim uma necessidade de amor dar-me, entregar-me em vossas mãos, sem medida, com infinita confiança, porque sois o meu Pai.
Charles de Foucauld

Sem comentários:

Enviar um comentário