sexta-feira, 11 de julho de 2014

Apostar no Amor, domingo 13 de Julho...

O capítulo 13 do evangelho de Mateus contém sete parábolas, por meio das quais o evangelista busca apresentar e iluminar o mistério do Reino de Deus. São parábolas fáceis de compreender, para homens e mulheres simples, numa linguagem que eles podem entender. Jesus visava mostrar o Reino de Deus primeiramente a eles.
A primeira parábola, que corresponde à liturgia deste dia, é conhecida com o nome de Parábola do Semeador. É uma parábola elaborada com uma perfeita alegoria que narra o que acontece com a semente da Palavra de Deus em diferentes circunstâncias.
Jesus, como bom judeu camponês, utiliza na sua pregação elementos e situações que são próprias dos costumes e hábitos de seu tempo e localidade. Por isso usa com tranquilidade uma linguagem "agrícola", compreendendo que seus ouvintes saberão a que está se referindo.
Ele fala de um semeador que saía cada manhã bem cedo para semear com generosidade sua terra. Na Palestina, onde morava Jesus, não era costume preparar a terra antes da semeadura. O semeador já sabia que ia encontrar diferentes tipos de solo.
Mas parece não lhe importar. As sementes caem à beira do caminho, em terreno pedregoso, no meio de espinhos, ou em terra boa. Ele simplesmente se preocupa por semear generosamente em todos os lugares por onde está passando. Seu trabalho é semear.
Para melhor receber a mensagem deste texto, vamos lê-lo detidamente e resgatar parte de sua riqueza. Percebemos que a parábola e sua explicação fazem uma unidade. No primeiro relato distinguimos quatro tipos de terrenos: o caminho, o terreno pedregoso, o meio dos espinhos, a terra boa. A explicação refere-se a quatro tipos de ouvintes. Eles são: quem ouve a Palavra e não a compreende; quem a ouve, recebe-a com alegria, mas não tem raiz em si mesmo; quem a ouve, mas a preocupação do mundo e a ilusão da riqueza sufocam-na; e finalmente quem ouve a Palavra e a compreende.
Num segundo momento percebemos que a audição da Palavra está subordinada à compreensão. Mas a variedade de categorias de ouvintes da Palavra e sua respectiva compreensão não são referidas a diferentes classes sociais. Não são os discípulos aqueles que compreendem a Palavra, e a grande multidão, o grupo daqueles que não compreende.
Lembremos então que toda a parábola é uma referência ao Reino, e o crescimento da semente com todas suas dificuldades é imagem do reino.
Considerando estas perspectivas, podem brotar em nós duas perguntas:
Como cresce a semente? Por que o semeador distribui a semente sem dar muita importância ao tipo de terreno?
A semente cresce no silêncio, sem que ninguém saiba como. Os discípulos que estão lá escutam a explicação que Jesus lhes oferece, mas isso não garantirá o crescimento da semente neles. Podem existir entre eles aqueles que escutam mas não compreendem, assim como podem existir, entre a multidão, pessoas que escutam e compreendem. Estas são as pessoas que ouvem realmente.
São aquelas que compreendem! E essa semente traz algo novo, desconhecido, que vai mexer na sua vida, nas suas relações. Para isso possivelmente devem preparar seu terreno e fazer aquilo que seja necessário para que a semente do Reino cresça nelas.
A segunda pergunta nos leva ao Semeador. Nosso Deus é assim: cada dia, cada amanhecer nos oferece gratuitamente a todos sua vida, sua ternura, sua infinita misericórdia e perdão. Não faz distinção de pessoas nem juízos morais de atitudes ou comportamentos.
Como em outra parte, Mateus diz, nosso Deus faz sair o sol sobre justos e injustos. Sim, Ele semeia sua terra não lhe importando seu estado de preparação. Assim Jesus nos convida a deixar cair por terra a imagem de um Deus que só ama se cumprimos seus preceitos, leis ou ritos. Nosso Deus é um Deus de misericórdia.
Vemos então que Jesus faz duas apostas: na força da semente e na bondade natural de toda terra.
Prova disso é o fato de Deus ter enviado seu Filho ao mundo, sua Palavra se fez carne e habitou entre nós, colocou sua morada entre nós. E essa Palavra é viva e eficaz, presente e actuante na história, no tempo e na humanidade.
Então Deus Pai-Mãe, eterno semeador, confia em cada ser humano, aposta no dom da liberdade que todos/as nós possuímos e que nos faz capazes de acolher, aceitar, em qualquer circunstância da nossa vida, a graça de Deus.
A liberdade humana tem um dinamismo próprio que lhe permite projetar-se livremente, em função de suas descobertas e de suas escolhas, para a responsável instauração de seu próprio universo.
O texto de hoje, ao nos mostrar as diferentes dificuldades que encontra a semente para ser acolhida pela terra, ilustra as diferentes orientações que o ser humano pode dar à sua liberdade, que traz diferentes consequências ou frutos.
Nos tempos actuais, uma das mais "luminosas" tentações na qual pode cair nossa liberdade é o narcisismo de si próprio. Crer-se o ser humano capaz, auto-suficiente para resolver com sua liberdade criativa e inteligente todos os problemas da humanidade e do universo, esquecendo qualquer referência, origem, norma, ou fim, que não seja o impulso subjectivo que o conduz.
No CELAM, o Papa Francisco fala de três tentações a que está exposta a Igreja hoje nas diferentes situações: a tentação de transformar a mensagem do Evangelho em uma ideologia; a tentação de gerir a Igreja como um negócio; e a tentação do clericalismo.
Para os teólogos na comunidade da Pontifícia Universidade Gregoriana, ele fez referência ao narcisismo dos teólogos.
Daí a necessidade imperiosa da liberdade humana de deixar-se tocar pelo outro, e Outro com maiúscula, mais ainda, de reconhecer-se criada, e criada porque amada e convidada a ingressar na partilha do amor, deixando a asfixia do individualismo.
Dessa maneira, o impulso que habita a liberdade e que a torna responsável por si mesma é um impulso que lhe permite traçar sua resposta pessoal ao Amor do qual se sente depositária. Só assim o ser humano será verdadeiramente livre!
Então a terra se abrirá e abraçará calidamente a semente, porque sabe que ela contém o segredo do sentido de sua existência.
Esta parábola é um canto universal ao Amor gratuito de Deus e à liberdade humana, premissas indispensáveis para que a vida nova aconteça e dê frutos.


A Semente do Reino
Como se arriscará o camponês a semear sem ver já todo o trigal
no punho apertado cheio de sementes?
Como olhar a terra com olhos de esperança sem ver já o bosque
nas sementes aladas de carvalho levadas pelo vento?
Como sonhará o jovem casal sem sentir já no embrião
todos os risos e as brincadeiras dos filhos?
Como entregar-se pelo pequeno, sem ver com olhos novos
a utopia do Reino no brotar germinal que apenas rompe a casca do medo?
de Benjamin González Buelta

Referências: KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindis, 1981. (partilhado do site www.ihu.unisinos.br)

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