O texto de hoje está situado na parte narrativa do quarto livrinho do evangelho de Mateus, que pode ser sintetizado como o seguimento do mestre da justiça. No domingo anterior, contemplamos o milagre da partilha. Jesus ensinou aos seus o jeito de ser compassivo e solidário e na abundância da comida o evangelista mostra que esse é o caminho para construir outro tipo de relações, de sociedade onde todos(as) tenham o necessário.
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«Homem fraco na fé, porque duvidaste?» |
Depois disso, Jesus "obrigou os discípulos a entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar". Segundo os estudos, é a única vez que o verbo "obrigar" aparece em Mateus. Talvez a intenção de Mateus é mostrar o interesse que tinha Jesus de que seus discípulos(as) continuassem vivendo com outros(as) o que tinham aprendido com a multiplicações dos pães. Agora é o momento de eles atravessarem o mar, irem para outras terras para levar este novo estilo de vida que tinham aprendido com Jesus.
Jesus foi um peregrino incansável, ia de um lado a outro fazendo o bem. Seus seguidores(as) não podem ficar parados, são permanentemente
enviados(as) em missão. A necessidade das pessoas nos leva a buscar e construir
juntos os caminhos de vida e liberdade. Enquanto sua comunidade navega mar adentro, Jesus se retira
para o monte a fim de rezar. Não sabemos o conteúdo de sua oração, mas
certamente está relacionado com a missão dos seus discípulos e discípulas.
A oração sacerdotal de Jesus, que nos apresenta o evangelho
de João, nos mostra isso com clareza: "Pai santo, guarda-os em teu nome,
os que tu me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um... Não te
peço para tirá-los do mundo, mas para guardá-los do Maligno". E depois continua: «Eu não te peço só por estes, mas também
por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra deles, para que todos
sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti" (Jo 21, 11-23).
Na certeza deste cuidado permanente que Jesus tem pelos seus
é que a comunidade cristã pode lançar-se ousadamente nas diferentes frentes
missionários que lhe toca viver. O que Mateus narra em continuação ilustra esta certeza. A
barca, a comunidade, está sofrendo uma forte tormenta: "A barca, porém, já
longe da terra, era batida pelas ondas, porque o vento era contrário".
Contrasta a fragilidade da barca com a obscuridade da noite
e da tormenta em alto mar. O evangelista quer manifestar a obscuridade e os
desafios que enfrenta a comunidade cristã. Jesus vai em auxílio dos seus, mas
como acontece quando estamos em crise, fica difícil para nós "ver" a
presença do Senhor. Confundimo-lo facilmente com um fantasma.
Conhecedor de nossa cegueira, Jesus apela para que
reconheçamos sua voz: «Coragem! Sou eu. Não tenham medo», a mesma que nos
chamou e enviou em missão. A mesma parece acender o coração de Pedro, fazendo-o crescer
em confiança para desafiá-lo: "Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu
encontro, caminhando sobre a água".
Obedecendo as palavras do Mestre, Pedro começa a andar sobre
as águas. Mas o barulho da tormenta e o frio da noite fazem estremecer sua fé e
ele começa a afundar no mar. A fé fraquejar não quer dizer que não exista. Prova disso é
que do fundo de seu coração Pedro grita: .
Na experiência deste apóstolo podemos ver reflectida a
caminhada da comunidade cristã que sabendo-se enviada pelo Senhor realiza sua
missão em meio de dificuldades, tendo como bússola a fé em Jesus. Também sua fé passa pela prova da noite, sente a sacudida do
vento: será que Deus nos acompanha? Será que isso é obra sua? Mas por que
tantos problemas? Por que parece que nunca chegamos a porto seguro? Onde Ele
está?
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«Senhor, salva-me» |
Desde essa noite podemos igualmente clamar como Pedro:
"Senhor, salva-me, salva-nos!" E quando descobrimos a mão de Jesus
que se estende para nós, de diferentes formas, como por meio de pessoas que nos
ajudam, dos mais pobres que nos ensinam a alegria de viver, do consolo e
fortaleza que experimentamos em nosso íntimo... Nossa vida é convidada a se
converter em um acto de adoração ao Senhor: "Os que estavam na barca se
ajoelharam diante de Jesus, dizendo: «De fato, tu és o Filho de Deus".
Oração
Não amanheças, Senhor,
que ainda meus olhos não aprenderam a ver-te no meio da noite.
Não me fales, Senhor,
que ainda meus ouvidos não logram te escutar nos barulhos da vida.
Não me abraces, Senhor,
que ainda meu corpo não percebe tua
pele nos abraços e na brisa.
Não me adociques, Senhor,
que ainda minha garganta não
saboreia tua ternura, no meio do amargo.
Não me perfumes, Senhor,
que ainda meu olfacto não cheira
tua presença no meio da miséria.
Baptiza meus sentidos com o lento decorrer
de tua graça encarnada, fluindo por meu corpo.
Benjamin Gonzalez Buelta, sj.
(extraído do site: www.ihu.com.br)
Olá Pe. Tiago
ResponderEliminarObrigada pela partilha e reflexão!
Feliz missão!!!
Abraço
Olá ir. Celia, boa tarde, muito obrigado pelas tuas palavras! Um abraço! Bom trabalho no Careiro da Várzea! ;)
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