Antiga porta do Mosteiro. |
Segundo o dramaturgo romano Plauto, "não existe hóspede, por mais amigo que seja de quem o recebe, que não comece a incomodar depois de três dias".
No México, aprendi um dito que diz algo, mais ou menos, parecido à deste escritor latino: "O morto e o convidado aos três dias começam a cheirar mal".
A experiência, que tenho tido neste mosteiro beneditino, mostra-me que estes ditos, talvez, sejam verdadeiros quando não há na raiz do acolhimento hospitaleiro uma motivação de fé para receber alguém que nos oferece a sua visita.
Segundo a regra de São Bento, um mosteiro ao receber um hóspede ou um peregrino, realmente a quem estão recebendo é ao próprio Cristo. No número 53 deste regra, aí podemos observar esta espiritualidade beneditina como arte cristã de bem receber e dar pousada: «[1]Todos os hóspedes que chegarem
ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo, pois Ele próprio irá
dizer: "Fui hóspede e me recebestes". [2]E se dispense
a todos a devida honra, principalmente aos irmãos na fé e
aos peregrinos. [3]Logo que um hóspede for anunciado,
corra-lhe ao encontro o superior ou os irmãos, com toda a solicitude
da caridade; [4]primeiro, rezem em comum e assim se associem
na paz. [5]Não seja oferecido esse ósculo da
paz sem que, antes, tenha havido a oração, por causa das
ilusões diabólicas. [6]Nessa mesma saudação
mostre-se toda a humildade. Em todos os hóspedes que chegam e que
saem, adore-se, [7]com a cabeça inclinada ou com todo
o corpo prostrado por terra, o Cristo que é recebido na pessoa deles. [8]Recebidos os hóspedes, sejam
conduzidos para a oração e depois sente-se com eles o superior
ou quem esse ordenar. [9]Leia-se diante do hóspede a
lei divina para que se edifique e depois disso apresente-se-lhe um tratamento
cheio de humanidade. [10]Seja o jejum rompido pelo superior
por causa dos hóspedes; a não ser que se trate de um dos
dias principais de jejum, que não se possa violar; [11]mas os irmãos continuem a observar as normas de jejum. [12]Que o Abade sirva a água para as mãos dos hóspedes;
[13]lave o Abade, bem assim como toda a comunidade, os pés
de todos os hóspedes; [14]depois de lavá-los,
digam o versículo: "Recebemos, Senhor, vossa misericórdia
no meio de vosso templo". [15]Mostre-se principalmente um cuidado
solícito na recepção dos pobres e peregrinos, porque
sobretudo na pessoa desses, Cristo é recebido; de resto o poder
dos ricos, por si só, já exige que se lhes prestem honras. [16]Seja a cozinha do Abade e dos
hóspedes separada, de modo que os irmãos não sejam
incomodados, com a chegada, em horas incertas, dos hóspedes, que
nunca faltam no mosteiro. [17]Entrem todos os anos para o trabalho
dessa cozinha dois irmãos que desempenhem bem esse ofício.
[18]Sejam-lhes concedidos auxiliares quando precisarem, para
que sirvam sem murmuração; e do mesmo modo, quando têm
menos ocupação, deixem esse ofício, para trabalhar
no que lhes for ordenado. [19]E não só em relação
a esses, mas em todos os ofícios do mosteiro, seja este o critério:
se precisarem de auxiliares, [20]sejam-lhes concedidos; por
outro lado, quando estão livres, obedeçam ao que lhes for
ordenado. [21]Do mesmo modo, cuide do recinto reservado aos
hóspedes um irmão cuja alma seja possuída pelo temor
de Deus: [22]haja ali leitos suficientemente arrumados e seja
a casa de Deus sabiamente administrada por monges sábios. [23]De modo algum se associe ou converse com os hóspedes quem não
tiver recebido permissão: [24]se encontrar ou vir algum
deles, saúde-o humildemente, como dissemos, e, pedida a bênção,
afaste-se, dizendo não lhe ser permitido conversar com os hóspedes».
Refeitório dos dias de Festa. |
Desde que cheguei a este mosteiro, na passada sexta-feira, 11 de Abril, tenho sentido este sentido de hospitalidade aliado a outro que vem confirmar: o da liberdade. Cada hóspede é tratado com liberdade, uma vez que a única coisa que é pedida é a participação nas Laudes, Hora Intermédia e Vésperas com Missa com a respectiva refeição ao término destes momentos de oração comum.
Apenas o Padre Prior nos cumprimenta, dando-nos as boas-vindas a esta Casa de Deus. É interessante notar que nenhum dos demais membros desta comunidade monástica se nos acercam aos hóspedes para nos perguntarem o nosso nome ou o que nos levou a vir ter com eles ou de onde procedemos. Na realidade, somos tratados como peregrinos em busca de Cristo e respeitados como tal. O perfume de São Bento segue dando frutos e criando espiritualidade.
Um aspecto curioso foi notar que los 20 hóspedes que estamos no mosteiro 15 pessoas destes são leigos (casais e solteiros) que buscam nas suas pausa laborais um tempo de oração e recolhimento. Somos 5 sacerdotes, sendo eu o único sacerdote religioso. Somos de diferentes idades. Como podemos observar, a espiritualidade é 'algo' muito buscado, procurado pelo povo de Deus. Isto faz-me lembrar as palavras de Francisco na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium quando diz que para ser missionário é necessário dar um mergulho no coração do povo e sentir-se como povo de Deus que com a força do Espírito Santo busca e caminha para a terra prometida.
«Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a
minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e
ele comigo». Ap 3,20
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